quinta-feira, 27 de março de 2014

A Ceifa e os Ceifeiros

Texto principal
"Nisto é glorificado Meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis Meus discípulos" (Jo 15:8)

Em muitos aspectos o estudo desta semana é a continuação da lição anterior. Cristo estabeleceu líderes espirituais com a finalidade específica de proclamar o reino de Deus. Os princípios e a metodologia que Jesus empregou devem permanecer como base espiritual para a preparação dos cristãos modernos.

Em outras palavras, as modernas teorias de liderança nunca devem substituir o fundamento que Cristo estabeleceu. Sempre que a publicidade e a propaganda tiverem precedência sobre o crescimento espiritual, os resultados serão superficialidade e esterilidade espirituais. Sempre que o proselitismo toma o lugar do arrependimento, da conversão e da transformação espiritual, a missão fracassa. Treinar líderes para conduzir projetos evangelísticos, campanhas de média e atividades de relações públicas, em lugar de prepará-los para o conflito espiritual, é procurar o desastre. O verdadeiro evangelismo e a formação de discípulos focalizam quatro aspectos: (1)Reconhecimento de nossa condição pecaminosa; (2) contrição sincera; (3) entrega espiritual sem reservas; (4) incontrolável compulsão para difundir a mensagem divina.

O pão dos mendigos
Aproximando-se o tempo de Sua partida, a preocupação de Cristo concentrou-se em Seus discípulos, aos quais serviu abnegadamente e amou profundamente. Eles não seriam abandonados. Embora Jesus tivesse que voltar para o Céu, o Espírito Santo foi comissionado a suprir a intimidade espiritual que os discípulos haviam desfrutado em Sua presença. A instrução de Cristo sobre a obra do Espírito era tão valiosa que João dedicou vários capítulos à sua preservação. Um elemento característico seria o testemunho do Espírito Santo a respeito de Cristo, embora o Espírito não tivesse que testemunhar sozinho. Acompanhados pelo Espírito, os discípulos também testemunhariam sobre o ministério de Jesus. Deus poderia ter designado anjos para disseminar, sem nosso auxílio, o evangelho. Em vez disso, Ele preferiu contar com seres humanos pecaminosos, errantes e imprevisíveis para esse sagrado chamado.

1. Leia João 1:40-46; 4:28-30; 15:26, 27; 19:35, 36. De que forma o humano e o divino trabalham juntos na conquista de pessoas?

Evangelismo tem sido informalmente definido como "mendigos dizendo a outros mendigos onde encontrar pão". André certamente se destacou nesse aspecto. Os escritos de seu irmão Pedro posteriormente foram incluídos na Bíblia. O ministério de Pedro foi narrado em Atos e Cristo incluiu esse apóstolo entre Seus três colaboradores mais próximos. Essas honras nunca foram concedidas a André. No entanto, ele recebeu reconhecimento especial por seguir a simples instrução de Cristo ao levar pessoas ao Salvador.

Quantos dos vasos escolhidos por Deus – pessoas eficientes no evangelismo, na administração e na liderança – foram apresentados a Cristo por discípulos fiéis cujas identidades, humanamente falando, foram há muito tempo esquecidas? Embora essas pessoas não tenham recebido distinção, a obra de Deus poderia ter sido enfraquecida se elas não tivessem testemunhado fielmente de Jesus. Cristo preparou Seus discípulos para tarefas maiores dando-lhes, primeiramente, atribuições simples, que estavam ao seu alcance. A mulher samaritana, Filipe e André demonstraram o poder do testemunho simples e dos convites sinceros. Todos somos chamados a fazer o mesmo.

Quando Jesus recomendou paciência
2. Leia Lucas 24:47-53; Atos 1:6-8; 16:6-10. Por que era necessário esperar pelo Espírito? Que lições referentes à paciência e à espera pelo tempo de Deus são sugeridas nessas passagens? Que encorajamento podemos receber da experiência de Paulo ao enfrentar frustração?

Mediante a pregação e exemplo, Jesus ensinou aos discípulos a paciência. Embora enfrentasse fanatismo, ignorância, incompreensão e total conspiração, Cristo perseverou pacientemente. Essa perseverança estava ancorada na completa dependência dEle em relação ao Espírito de Deus. Jesus compreendia que, a menos que os discípulos experimentassem a mesma dependência, o avanço do reino ficaria seriamente
comprometido. Por outro lado, se eles aprendessem essa lição desde o início, seu futuro ministério seria destinado a realizações grandiosas. Por isso, ao Se despedir, Sua ordem foi: "ficai" [ou "esperem", NTLH] (Lc 24:49).

Cristo deseja que os cristãos modernos conheçam essa lição também. Cristãos bem-intencionados, mas autossuficientes, quando não querem aguardar pacientemente a orientação do Espírito, podem criar dificuldades para si mesmos e para o reino de Deus.

O apóstolo Paulo havia elaborado planos ambiciosos para entrar na Bitínia. No entanto, mesmo o obstinado Paulo foi sensível à guia divina, e não resistiu à intervenção do Espírito. De bom grado, o apóstolo aceitou a direção do Espírito, que o enviou à Macedónia. Numerosos milagres acompanharam seus esforços nessa região. Houvesse Paulo se precipitado em seus projetos, e a missão europeia poderia ter sido suspensa por tempo indeterminado.

Como podemos nos acalmar para esperar com paciência a guia do Espírito? Na prática, o que devemos fazer para cultivar essa paciência? O que a paciente e piedosa confiança indicam em relação ao nosso relacionamento com Deus?

Exercendo autoridade
3. Compare as seguintes passagens: Marcos 6:7-13; Mateus 16:14-19; 18:17-20;
28:18-20; João 20:21-23. Que tipo de autoridade os discípulos de Jesus possuíam? O que isso significa para nós hoje?

"Pedro expressara a verdade que é o fundamento da fé da igreja, e Jesus o honrou então como o representante do inteiro corpo de crentes. Disse: "Eu te darei as chaves do reino dos Céus e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus'" (Mt 16:19, RC).

"'As chaves do reino dos Céus" são as palavras de Cristo. Todas as palavras da Santa Escritura são dEle e acham-se aqui incluídas. Essas palavras têm poder para abrir e fechar os Céus. Declaram as condições com base nas quais os homens são recebidos ou rejeitados. Assim, a obra dos que pregam a Palavra de Deus é um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. Sua missão acha-se repleta de resultados eternos" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 413, 414).

Cristo comissiona Seus discípulos assim como o Pai O comissionou. Por meio do Espírito, o Pai investiu Cristo com poder divino. Por meio do Espírito, Jesus também investe Seus discípulos com poder divino proporcional às suas atribuições terrenas. Nenhum seguidor de Jesus devia temer que Ele os tivesse enganado. Cada habilidade, talento, capacidade e força necessária foram supridos.

Às vezes, a liderança humana falha em reconhecer os princípios envolvidos. Sempre que os líderes atribuem tarefas sem conceder poder correspondente, o fracasso pode ser previsto. Frequentemente, a insegurança dos líderes se manifesta por meio de comportamentos controladores que reprimem os pensamentos, a criatividade ordenada por Deus e a individualidade dos outros. Assim restringido, o discípulo não consegue ser eficiente. Tal comportamento seria comparável a um maestro que tenta tocar todos os instrumentos simultaneamente, em vez de reger a sinfonia.

O exemplo de Jesus diz muito aqui. Se alguém já possuiu o direito de reter a autoridade e ditar comportamentos, esse certamente foi Cristo. Mas Ele fez o contrário: investiu outros com autoridade, encarregou-os de uma missão longe de Sua presença, onde Sua única influência seria Suas instruções e exemplo, e os enviou para ministrar e testemunhar.

Trabalhadores para a colheita
4. "Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor. Então disse aos Seus discípulos: 'A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a Sua colheita'" (Mt 9:36-38, NVI). Que importante mensagem encontramos nesses versos em relação à nossa tarefa?

A colheita espiritual era muito grande, mas os ceifeiros eram escassos. O solo do coração havia sido preparado, a semente espiritual plantada; a germinação, a farta umidade e a abundante luz solar estimularam inacreditável crescimento. Pessoas amadurecidas aguardavam a colheita, mas onde estavam os ceifeiros? Utilizando imagens simples e compreensíveis, Jesus procurou inspirar zelo contagiante.

Às vezes, os cristãos desejam companheirismo com outros crentes e formam grupos, ignorando cegamente as pessoas sinceras do mundo que estão prontas para a colheita. Talvez sem perceber sua responsabilidade para com as pessoas que perecem, eles se ocupam com compromissos da igreja, responsabilidades cívicas, manutenção de prédios e outros projetos vantajosos, dedicados a preservar o status quo. Sem dúvida, essas são coisas boas. Por vezes, membros bem-intencionados
questionam o valor do evangelismo, ou expressam este sentimento: "Pastor, esse negócio de evangelismo está certo, mas não precisamos de programas para as pessoas que já estão na igreja?"

Essa é uma questão bastante justa, porém é preciso também perguntar: "Alguma vez Jesus lamentou a escassez de guardadores de grãos?" Em vez disso, Sua súplica foi por "mais ceifeiros".

Como podemos encontrar equilíbrio entre ministrar as necessidades das pessoas na igreja e não descuidar da evangelização?

Perdidos e achados
Mediante o ensino e exemplo pessoal, Jesus ensinou Seus discípulos a se associarem com pecadores, mesmo aqueles notórios como prostitutas e cobradores de impostos. De que outra forma eles fariam discípulos de todas as nações? Seus ensinamentos muitas vezes focalizavam esses pecadores. O fato de que Cristo os tenha caracterizado como "perdidos" demonstra Sua misericórdia. Ele poderia tê-los caracterizado como "rebeldes" (o que eles certamente eram) ou "depravados". Em lugar disso, Ele escolheu a expressão "perdidos".

O termo "perdidos" não carrega as mesmas conotações negativas contidas nas palavras "rebeldes" e "depravados". Em vez de punir pessoas caídas, devemos seguir o exemplo de Cristo. A expressão "perdidos" é uma descrição generosa, porque a responsabilidade é colocada sobre os que procuram pecadores. Comentários depreciativos afastam as pessoas. Linguagem imparcial transmite aceitação e possibilidade de relacionamento. Portanto, devemos ter cuidado não apenas com a linguagem que falamos, mas também com o que pensamos, porque nossos pensamentos afetarão muito nossas atitudes para com os outros.

5. Leia Lucas 15. Qual é a mensagem essencial dessas parábolas?

Mediante os evangelhos, Jesus encoraja os cristãos a se tornarem descobridores. Ele quer que amemos e alcancemos os perdidos, independentemente do tipo de pessoa que sejam ou de sua maneira de viver.

"Esse é o culto que o Senhor escolheu: 'Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo [...] e não te escondas daquele que é da tua carne' (Is 58:6, 7, RC). Quando vos considerardes pecadores salvos unicamente pelo amor do Pai celestial, então tereis amor e compaixão por outros que sofrem no pecado. Não mais defrontareis a miséria e o arrependimento com ciúme e censura. Quando o gelo do amor-próprio se derreter de vosso coração, estareis em simpatia com Deus, e partilhareis de Sua alegria na salvação do perdido" (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 210, 211).

Como Deus vê os perdidos? Qual é a nossa responsabilidade para com eles?


Estudo adicional
Leia de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 488-496: "A Última Jornada da Galileia"; p. 436-440: "Quem é o Maior"; Atos dos Apóstolos, p. 17-24: "O Preparo dos Doze"; p. 25-34: "A Grande Comissão"; p. 35-46: "O Pentecostes"; p. 47-56: "O Dom do Espírito".

"Os discípulos sentiram sua necessidade espiritual, e suplicaram do Senhor a santa unção que os devia capacitar para o trabalho de salvar pessoas. Não suplicaram essas bênçãos apenas para si. Sentiam a responsabilidade que lhes cabia nessa obra de salvação. Compreendiam que o evangelho devia ser proclamado ao mundo, e reclamavam o poder que Cristo prometera." (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 37).


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