segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Trajetória “quase” inevitável

Vamos trabalhar a teoria da “Degenerescência Eclesiástica Evitável” nesse artigo. Ele está baseado na  observações feitas nas linhas de tendência de crescimento nas Divisões Europeias, na Norte-Americana e na Sul-Americana. Ao desenvolver a leitura perceba como há necessidade de uma reforma missiológica imediata em nossa igreja sob pena de, vítimas do triunfalismo sermos pegos de surpresa pela mesma crise que está aprisionando a igreja na Europa.
A Divisão Trans-Europeia experimenta uma Taxa de Crescimento Decenal (TCD) de 25%, isto é, cresceu 25% em 10 anos, ou 2,5% de Taxa de Crescimento Anual (TCA). Veja o histórico das TCDs ao longo das últimas duas décadas. Observe a linha de tendência em vermelho.
A Divisão Euro-Africana tem TCD projetada de 5,8%, ou seja, 0,58% de TCA.
A Divisão Norte-Americana vive a realidade de 21,3% de TCD e consequentemente 2,13% de TCA.
Veja a Divisão Sul-Americana abaixo. Devo fazer o adendo que a DSA fez sérias atualizações na secretaria nos últimos 3 anos. Se distribuirmos esses ajustes de secretaria sobre as últimas duas décadas e projetarmos então a TCD das décadas de 1989-1998 e 1999-2008 teríamos uma TCD de aproximadamente 60%. Veja como ficou sem essa distribuição:
Ao observarmos a prática da igreja, os momentos históricos e os movimentos sociológico-culturais pelas quais primeiro a Europa e depois os Estados Unidos passaram e se projetarmos o mesmo padrão sobre a divisão Sul-Americana, vemos uma tendência que deve servir de alerta.
Algumas pessoas acusam esse raciocínio de uma simplificação exagerada de todas as variáveis que incidiram sobre a Europa e Estados Unidos tanto dentro quanto na sociedade fora da igreja. Quero dar a mão a palmatória por uns instantes e admitir a simplificação. Mas mesmo assim o padrão, a tendência se repetem. Ainda assim o que ocorreu nessas Divisões está começando a mostrar a cara por aqui.
Por motivo de ética e falta de autorização para a divulgação dos gráficos, vou me limitar aqui aos números brutos. Nenhuma das uniões da IASD no Brasil superou a faixa de 4,3% de TCA que projetado não passa de 40 a 45% de TCD. No Centro-Sul brasileiro antes ficou entre a faixa de 0,9 e 2,3% de TCA que projetados para 10 anos dariam uma TCD de 9-10% a 23-28%.
A teoria que estamos querendo desenvolver aqui é que de acordo com o gráfico do ciclo de vida de uma igreja, não temos receio de afirmar que a Europa está em pleno declínio, os Estados Unidos estão em plena estagnação e o Brasil está ameaçando entrar na fase de estagnação. Veja o gráfico.
Nesse momento o NUMCI está fazendo um estudo sobre a distribuição etária da membresia da IASD no Brasil. Nossa suspeita é que o que difere de maneira marcante o nosso padrão de crescimento e a tendência que experimentamos no Brasil é a pirâmide etária na qual ficam destacados os jovens e como consequência vigor e total potencial de reverter a atual tendência se houver um desejo coletivo de mudanças significativas no jeito de ser e fazer igreja acontecer.
Veja a diferença entre a pirâmide etária de um país emergente e um país típico europeu:
A suspeita é que na IASD do Brasil ainda estejamos mais voltados para o gráfico da esquerda do que o da direita, apesar de que pelas projeções do IBGE a nossa população já tende cada vez mais ao modelo europeu de distribuição etária.
Mas o que isso influi no crescimento da igreja?
Nesse momento a igreja na Alemanha por exemplo tem 55% dos membros com idade superior a 65 anos. A expectativa de vida na Alemanha é de 78 anos. Esse estudo eu fiz há 4 anos. Quer dizer que a igreja tem estatisticamente 9 anos para ter o númeor de mebros reduzido em 55%. Sem contar as variáveis de que adventistas vivem mais mas por outro lado o efeito sucção – que é a influência da perda de membros sobre a saída de outros membros, ou seja, quanto mais membros saem (ou morrem) mais outros tem a tendência de sair. A síndrome de abandonar o barco que está afundando…
Para completar esses senhores e senhoras de 65 anos ou mais, são responsáveis por 80% do volume de dízimo que é devolvido, que é utilizado para a operação da igreja.
Gostaríamos de convidar o leitor a raciocinar nesses termos apenas por um momento observando os dados. Em aproximadamente 15 a 20 anos estaremos na mesma situação que os Estados Unidos e a Europa, com a diferença que ainda temos a juventude e o vigor na igreja para revertermos a situação e empreendermos mudanças que impeçam a igreja de entrar nessa mesma trajetória que já está se mostrando em nossos arraiais.
Quero aqui afirmar o meu compromisso com o crescimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia mundial e especificamente com o crescimento da igreja Adventista no Brasil. Quero reafirmar o meu compromisso com a teologia e o sistema doutrinário-bíblico que a Igreja Adventista mantém. E declaro solenemente que nenhuma das linhas acima tem função de criticar ou destruir, mas de analisar e chamar para o diálogo.
Mantemos o compromisso de para cada avaliação que fazemos e percebemos que a igreja poderia fazer melhor, temos propostas sólidas e consistentes para a reversão da tendência de estagnação. Em nenhum momento nos arrogamos o direito de termos sozinhos a sabedoria plena para solução, antes nos colocamos a disposição da igreja para o debate e a troca de idéias, já por que da perspectiva da qual escrevemos, com certeza nos faltam muitos outros pontos de vista e as implicações que trazem consigo.
Nos próximos artigos estaremos explorando sugestões de o que a igreja poderia empreender para com simplicidade liberar potenciais e energia para o sistema. O poder de Deus quer se mostrar, mas pelas nossas práticas, nossa cultura corporativa e por nossa disposição missiológica estamos dificultando em muito que esse poder seja percebido pela igreja.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Diagnosticar a Saúde da sua Igreja

Você já pensou que a sua igreja pode estar doente? Há uma tendência de as igrejas no Brasil (centro-sul) entrarem em estagnação conforme o artigo http://crescimento.numci.org/trajetoria-quase-inevitavel/. As taxas de crescimento das igrejas locais mostram que precisamos fazer um check up e descobrir o estado de saúde delas (clique AQUI).

Você tem algumas maneiras de avaliar a saúde de sua igreja. A maioria das pessoas insistem, no entanto em fazer uma avaliação intuitiva. Perguntam para uma ou outra pessoa como se sentem na igreja e conseguem com isso aquelas respostas que as pessoas faz tempo queriam dar – geralmente negativas.
Há instrumentos muito apropriados para o diagnóstico eficaz da saúde de uma igreja. Instrumentos com precisão científica que conseguem medir o estado que uma igreja se encontra e podem ver a capacidade que a igreja de crescer saudável.
A pergunta é, pode uma igreja ficar doente (Veja AQUI)? Pessoas não ficam? Famílias não adoecem em suas relações e se tornam disfuncionais? Não acontece com outras organizações, que perdem vigor, declinam e morrem?
A igreja tem uma natureza dupla: Divina e humana – clique AQUI e veja no Nisto Cremos página 189 – A Igreja. Na parte Divina é claro que a igreja não vai enfermar. Deus é perfeito e tudo o que Ele faz é perfeito. Suas incursões e manifestações na vida pessoal dos crentes como na igreja quando ela está reunida, sempre são perfeitas e é por isso que vamos para a igreja. Na parte humana é que a igreja falha. As estruturas de organização e ação, a maneira que fazemos as coisas, os vícios e manias que vamos perpetuando sem questionar… E ali que a igreja torna-se enferma e pára de crescer.
Partimos do pressuposto de que toda igreja saudável irá crescer e dará muito fruto (cf. Jo. 15:5). Se no entanto de um grupo de características básicas alguma estiver mal, o todo da igreja será afetado por aquela deficiência. Exemplo: se uma macieira tiver adubo, solo bom, temperatura adequada e sol, mas não tiver água, ela não dará fruto de maneira saudável.
Como as igrejas ficam doentes? Elas ficam doentes por diversos motivos, mas principalmente quando acham “fórmulas defuncionamento” que no passado deram certo e seus líderes querem perpetuá-las como se fossem sempre dar certo.
Igrejas locais e organizações religiosas estruturam-se e em seus inícios têm coragem de fazer ajustes e mudanças naquilo que percebem que não dá certo. Depois de algum tempo a maneira como se estruturaram vira uma tradição, que nos olhos de seus membros, essas estruturas de funcionamento tornam-se tão sagradas quanto as outras coisas na igreja. “Sempre fizemos assim” dizem. Muitas vezes pode ocorrer que estruturas de poder e interesse são responsáveis por perpetuar a igreja naquele formato. E assim igrejas esquecem que foram chamadas para propagar uma mensagem e que podem se estruturar de diversas maneiras sem serem infiéis à missão e à mensagem a elas confiadas. Stephen Covey ousou fazer a definição de insanidade: “fazer as coisas sempre da mesma maneira e esperar resultados diferentes.”
Aqui não é um fórum para crítica, estamos apenas evidenciando o que pode tornar uma igreja doente. Partimos do pressuposto de que as igrejas precisam ser relevantes internamente na nutrição espiritual dos membros, na condução dos membros para viverem o poder de Deus em sua vida de maneira abundante. Elas devem providenciar os desafios para que cada membro descubra o seu propósito dentro do grande plano de Deus e tenha coragem e capacidade para vivê-lo com toda a eficácia.
Uma igreja saudável também deve ser relevante na sociedade onde está inserida. Deve estar em condições de identificar as necessidades principais da comunidade e servi-la ganhando assim a confiança necessária para pregar o evangelho para os descrentes.
Isso tudo traduz-se em crescimento. Se uma igreja não consegue ser relevante para os seus membros, não consegue servir a comunidade que a rodeia e consequentemente não consegue crescer vigorosamente, essa igreja é considerada doente.
O NUMCI desenvolveu uma ferramenta muito útil para avaliar o estado de saúde de uma igreja. Durante 2,5 anos trabalhamos com teólogos, analistas de sistemas, consultores, e estudantes. Desenvolvemos um instrumento que uma vez aplicado traz resultados cientificamente comprovados. O instrumento foi exaustivamente testado e um programa de computador especialmente desenvolvido para fazer os cálculos e os tratamentos estatísticos necessários, para que a igreja possa ter certeza de 95% do resultado adquirido.
Com os questionários respondidos a igreja manda-os para o endereço indicado e em seguida já mandamos o laudo da igreja. Veja modelo abaixo:
O laudo que acompanha o diagnóstico já dá dicas e orientações básicas sobre o que fazer e em que áreas se deve iniciar o trabalho para recuperar a saúde de sua igreja. Você vê acima, que depois de exaustivos estudos, estabelecemos o nível de 70% como margem mínima de saúde de uma igreja. Você também vê que das características, as que estão acima de 70% são consideradas sadias.
Assim como no exemplo da macieira acima, se apenas uma dessas características estiver baixa, pode ser que a igreja esteja “travada” apenas por causa dela.
Leia o livro de Christian Schwarz “Desenvolvimento Natural de Igreja” para entender melhor os detalhes teóricos.
Se você quiser, enquanto você se organiza para fazer o diagnóstico, observe com a liderança de sua igreja alguns elementos que podem ser determinantes no crescimento de sua igreja ou na sua estagnação.
Avalie sua Igreja em alguns ítens, mesmo que seja subjetivo dê uma nota de zero a 10.
Compreensão dos membros da Missão da igreja como um todo:

Baixa Alta
Compreensão dos membros da vocação da igreja local:

Baixa Alta
Desejo dos membros de crescer espiritualmente e em número de membros de igreja. Desejo de ver a igreja crescendo.

Baixa Alta
Comprometimento dos membros com o evangelismo/crescimento:

Não é prioridade Alta Prioridade
Compreensão dos membros de que a igreja precisa de uma estratégia para crescer:

Ruim Média Ótima
Envolvimento de membros no ministério (% membros com cargo/função):

Menos de 30% Mais de 60%
Efetividade dos PG no ministério da igreja:

Baixa Alta
Papel da Escola Sabatina no crescimento geral da igreja:

Baixo Alto
Nível da experiência na capacidade de amar por membros novos e antigos:

Baixa Alta
Desejo da liderança da igreja para estabelecer uma nova igreja:

Baixa Alta
Publicado por Dr. Berndt Wolter

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Conheça a Área onde sua Igreja está Inserida

Toda igreja para ser relevante precisa entender o ambiente onde está inserida.

Há um potencial para ser explorado em cada comunidade, portas abertas e brechas por onde entrar. Se você organizar a sua igreja por ministérios de acordo com os dons dados pelo Espírito Santo, surgirão pessoas dispostas a servir (veja: Como Organizar os Ministérios de acordo com os Dons de cada membro – Clique AQUI). Mas onde servir? O que é necessário, onde estão abertas as portas?
É pelo levantamento da realidade que cerca a sua igreja, que se descobre o que fazer, o que os moradores daquela comunidade de fato precisam e como levar isso a ser útil na pregação do evangelho.
Descubra quem são os líderes formadores de opinião em sua comunidade, descubra quais as necessidades que mais assolam a comunidade? Há alguém já suprindo esta necessidade? Prefeitura? Alguma associação de moradores? Em que área é mais fácil entrar em contato com as pessoas e conquistar-lhes a confiança com maior eficácia?
Converse com o taxista, com o padeiro, com o frentista do posto e a enfermeira no posto de saúde. Veja o que está escrito no jornalzinho do bairro ou município, descubra o que está acontecendo para além das portas da igreja e ache com criatividade uma maneira de servir as pessoas em sofrimento e necessidade.
Veja como Cristo fazia: “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoas que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava, então: “Segue-Me.” CBV, 143.
Mas Jesus andava no meio do povo para sentir o que o povo sentia e agir ali onde o povo estava mais precisando. A igreja como representante de Jesus aqui na terra deveria fazer assim também.
Apenas depois de conquistar a confiança é que Ele pedia para que as pessoas O seguissem.
Ao lado você tem uma escala que ajuda você a descobrir, depois que você conquistou a confiança das pessoas, em que patamar que ela está no conhecimento do Mestre Jesus.
A abordagem é diferente se a pessoa já passou pelo batismo e já fez decisões por Cristo (mesmo que sejam biblicamente erradas) do que se ela estivesse no nível -5.
A simplificação exagerada das coisas nos leva a sair dando lições da Bíblia para quem nem está preparado para tal.
Muitas vezes fechamos portas ao irmos com sede demais ao pote, e outras vezes deixamos de aproveitar quando as portas estão escancaradas. Veja outra escala para ajudar o levantamento da área:

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O MÉTODO DE JESUS - Evangelismo


Um renomado cirurgião, chamado Lewis Evans, viajou a Coréia para visitar um colega que estava trabalhando como missionário ali. Dr. Evans acompanhou  seu amigo a uma vila distante onde uma mulher doente requeria uma cirurgia de emergência. Ele assistia ao médico, enquanto este calma e firmemente realizava a operação que durou sete horas em um sufocante calor e sob primitivas condições.
Depois, enquanto conversavam, o Dr. Evans brincou: “Ei Doutor, quanto você ganhou por uma operação como esta de hoje? Nos Estados Unidos ganharia no mínimo $ 15.000.”
 
O outro homem  pegou uma moeda de cobre furada de sua gaveta e explicou que aquilo era tudo o que o paciente tinha dado. Então, disse: “Primeiro, eu ganhei esta moeda furada, e depois, tenho a profunda convicção de que Cristo esteve trabalhando por sete horas através destes dedos para tocar e curar um de seus filhos.” Isto é cristianismo!
É nosso privilégio tocar outras pessoas do mesmo modo que Cristo fez. De fato, este é o nosso modelo de evangelismo. O livro de João deixa-nos alguns exemplos de como Jesus Se propõe a mudar as pessoas.
 
Como Jesus Se relacionava com as Pessoas
A história começa no primeiro capítulo de S. João, versos 37 e 38. Aqui, nós vemos dois discípulos de João Batista que ouviram Jesus falar e, imediatamente, se afastaram da multidão para segui-lO. Jesus Se volta para eles e pergunta: “Que buscais?” O Mestre não iniciou a partir de sua agenda, mas da deles. Ele não Se aproximou deles com um programa pré-arranjado. Ele começou onde eles estavam e, gradualmente, os conduziu a Si mesmo: “– Rabi, onde moras?” Respondeu-lhes: “Vinde e vede.”
Em S. João 2 está registrada a visita de Cristo à festa de casamento em Caná. Durante a celebração, acabou o vinho. Isto significava um desastre social. Era humilhante aos convidados ficarem sem ser servidos. A mãe de Jesus percebeu a ansiedade dos anfitriões e a comunicou ao Filho. Ele ordenou que se enchessem as 6 talhas de pedra e os transformou em vinho, o melhor da festa. Problema resolvido. O milagre mostra a disposição de Cristo em atender às necessidades das pessoas, mesmo daquelas que não parecem espirituais. Ele atendia às necessidades do momento.
Em S. João 3, nós encontramos Jesus conversando com um fariseu que Lhe pediu uma audiência na calada da noite. Nicodemos se tornou consciente de que necessitava de algo mais do que uma religião formal; algo mais do que a tradição e o ritual. Então, Jesus mostrou-lhe exatamente o que ele estava procurando e como obtê-lo: “Você precisa nascer de novo.” Esse líder estava receptivo, naquela noite, para receber direção espiritual, assim, Jesus o atendeu nesse nível.
Então nós chegamos a S. João 4. Cristo estava passando por Samaria e encontrou-Se com uma mulher perto do poço. Ele atendeu às suas necessidades, com muito tato, ao dar-lhe uma medida de respeito. Ignorando séculos de preconceitos, Ele pediu: “Dá-me de beber.” Essa mulher havia passado por 6 maridos. Os homens da vila a consideravam um mero objeto de prazer. Ela tinha ido sozinha ao poço, já que as demais mulheres da vila a evitavam. Então, Jesus ofereceu a essa rejeitada apoio emocional, tratando-a com respeito e oferecendo-lhe algo maravilhoso: água que saciaria para sempre a sua sede. Ele, cuidadosamente, a conduziu ao ponto onde ela estava, preocupada em tirar água do poço para Ele, o Doador da Vida Eterna.
S. João 5 mostra-nos uma dramática cura junto ao tanque de Betesda. Novamente, Jesus estava encontrando um ser humano precisamente no ponto de sua presente necessidade. Este pobre paralítico, que tinha estado em desespero por 38 anos, queria mover-se, andar! Então, Jesus lhe perguntou: “Queres ficar são?”  Despertando, assim, uma fagulha de fé no seu coração. Respondendo à ordem de Jesus, ele se levantou sobre os seus pés. Seu corpo inválido, subitamente, tornou-se perfeito. Jesus atendeu à sua necessidade física.
Era essa a maneira de Jesus trabalhar. Ele não disse aos noivos das bodas de Caná que eles tinham de nascer de novo. Ele atendia às necessidades sentidas no momento. Ele não falou ao paralítico sobre a Água viva, pois isso não o despertaria. Ele o ajudou a andar.
Em S. João 6, nós encontramos Cristo envolvido com milhares de pessoas famintas na encosta de uma colina em frente ao Mar da Galiléia. Elas tinham uma necessidade definida, a qual era indicada pelos soluços das crianças. Os discípulos sugeriram que a multidão fosse dispensada para cada um providenciar o seu próprio alimento. Mas, Jesus insistia que eles como evangelistas, precisavam atender às necessidades do povo com suas escassas provisões. Necessidade atendida.
Eis um sumário do que Jesus fez nos seis primeiros capítulos de S. João:
Método De Jesus: 
O método de evangelismo de Jesus é simples: alcançar as pessoas onde elas estão, tocá-las no ponto de suas necessidades e dar-lhes um lampejo do Seu magnífico amor.
A estratégia do Senhor é, belamente, sintetizada no livro Ciência do Bom Viver, página 143:
“Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoas que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava, então: “Segue-Me.”
O método de  Cristo no evangelismo vai além de discursos memorizados e apresentações “enlatadas”; Ele é rico e dinâmico.
A – Expressão corporal de Cristo:
1. Olhos – “Amor expresso nos olhos e na voz atraíam…” (Ev,124).
2. Palavras – “Não fora o espírito suave, cheio de simpatia, refletindo-se em cada olhar e palavra, e Ele não teria atraído as grandes multidões que atraiu.” (Idem).
“Aqueles que estudarem os métodos de ensino de Cristo, e se educarem em Lhe seguir o trilho, hão de atrair grande número de pessoas, mantendo sua atenção, como Cristo fazia outrora.” (Idem)
B – Alguns de Seus métodos:
1. Ilustrações: Surpreendia com ilustrações que prendiam a atenção. Ilustrações tiradas das coisas da vida diária.
2. Instrução: Por meio da imaginação, chegava-lhes à alma.
3. Misturava-se:
Conversão
C – Exercício:
Leia esses textos com um grupo: Mt. 9:11,12; Lc. 7:36-40;
Lc. 19:5-9. Descubra o seguinte:
a) Como Ele misturava-se.
b) As necessidades atendidas.
c) O resultado.
D – Como misturava-se:
1. Ilustração do sal e do fermento: Mt 5:13 e Mt. 13:33.
2. Ordem de Jesus: João 17:15.
3. Através do contato pessoal e associação.
“Jesus entrava em contato pessoal com as pessoas. Não se mostrava arredio e afastado daqueles que necessitavam de Seu auxílio. Ele penetrava nos lares dos homens, confortava os tristes, curava os enfermos, alertava os descuidados, e saía pela vizinhança fazendo o bem.” Beneficência Social, p. 60.


Princípio do Relacionamento Pessoal

Evangelismo é fundamentado em relacionamentos pessoais. Ao desenvolvermos amizade genuína com indivíduos, cria-se laços de confiança.

Ex.: John Wesley pregava a auditórios de 20.000. Interesse era despertado em grandes reuniões públicas. Mas, os homens experimentavam crescimento na graça em grupos. Evangelismo era mais do que descarregar um caminhão de doutrinas. Ele entendeu que é difícil ganhar pessoas que você não conhece. (Padded Pews or Open Doors, M. Finley, pag. 30).
Necessidades Sentidas e Necessidades Últimas
Necessidade sentida é a área da vida onde um indivíduo sente que necessita de ajuda. É a necessidade percebida. Muitos empresários ansiosos, por exemplo, têm necessidade de aliviar o stress. O fumante inveterado tem a necessidade de abandonar o vício.
Uma necessidade última, no entanto, é a que os seres humanos mais necessitam – cada pessoa no planeta precisa de Deus em sua vida. Reconciliação com Deus é a última e principal necessidade.
A revista Psychology Today, na edição de setembro de 1987, trouxe um artigo mostrando quais as maiores preocupações dos americanos, conforme uma pesquisa. Elas são:

Hierarquia das Necessidades
 
Abraão Maslow identificou a hierarquia das necessidades, conforme se vê:
1 – NECESSIDADES FÍSICAS
 •fome e sede
 •sono
 •saúde
 •exercício
 •sexo
 
2 – SEGURANÇA
 •Proteção
 •Conforto e paz
 •Nenhuma ameaça ou perigo
3 – AMAR
 •Aceitação
 •Sentimento de pertencer a alguém
 •Participação em grupo
 
4 – AUTO-ESTIMA
 •Reconhecimento e prestígio
 •Competência e sucesso
 •Força e inteligência
5 – ATUALIZAÇÃO
 •Auto realização do potencial
 •Fazer coisas pelo desafio de realização
 •Curiosidade intelectual
 •Criatividade
As mais Altas Necessidades
Motivo:  “Consciente ou inconsciente necessidade que impele uma pessoa a certa ação ou comportamento”.
(Fonte:  Felt Need Evangelism Syllabus – Andrews University)
Outras Necessidades
 
Compromisso: Entregar-se a algo que transcende o ordinário, o comum da existência. Pessoas não se satisfazem com tarefas rotineiras. Satisfazem a essa necessidade pertencendo ao grupo dos Corintianos, a uma causa política, ou na defesa da ecologia.
Filosofia Cósmica: Necessita saber que todas as coisas têm um significado, que pertence a um universo ordenado. Que a vida tem origem e destino eterno. 
(Fonte: Present Truth in a Secular World. J. Paulien, p. 127.)
Após uma noite de pregação no auditório Pacheco, no Piauí, uma mulher chamada Deusa veio contar-me a sua história.  Era uma fumante inveterada, alcoólatra e prestes a perder o emprego. Tudo aconteceu depois que o seu marido a abandonou, desestruturando a sua vida.  Era refratária à mensagem bíblica.  Foi atraída pelo curso Como Deixar de Fumar e o seminário sobre o stresse.
O momento decisivo em sua vida veio quando ela percebeu que os Adventistas se importavam o suficiente com ela para saciar-lhe às necessidades físicas e ajudá-la a se livrar dos vícios. Após abandonar o cigarro e o álcool, ela percebeu que necessitava de Deus e foi batizada.
 
Há muitos que não demostram interesse nas coisas do Espírito, mas que se maravilham quando alguém vai até onde ele se encontra e atende às suas necessidades.
Ellen White confirma:
“Muitos não têm fé em Deus e perderam a confiança no homem. Mas apreciam ver atos de simpatia e prestatividade. Ao verem alguém sem qualquer incentivo de louvor terrestre ou compensação, aproximar-se de seus lares, ajudando os enfermos, alimentando os famintos, vestindo os nus, confortando os tristes e ternamente chamando a atenção para Aquele  de cujo amor e piedade o obreiro humanos é apenas mensageiro – ao verem isto, seu coração é tocado. Brota a gratidão, e fé é inspirada. Vêem que Deus cuida deles, e ao ser Sal Palavra aberta, estão preparados para ouvi-la.”
(Medicina e Salvação, p. 247).
Cristo estava não apenas interessado em transformar água em vinho, mas em revelar o vinho do Evangelho aos Seus contemporâneos. Não apenas em multiplicar os pães, mas em mostrar ao povo o Pão da Vida. Tudo que fazemos deve ter um propósito último: Conduzir almas ao Senhor Jesus.
 
O Melhor Método Evangelístico – por Mark Finley

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Natureza da Igreja – O que é a Igreja?


Sem entendermos a natureza da igreja, torna-se complicado entender o crescimento da igreja. Se abordarmos a igreja de maneira alheia à sua natureza, estaremos ferindo-a e se houver algum crescimento, ele não será saudável e duradouro. Conforme como abordamos a igreja os novos discípulos que forem se unindo a ela, terão o perfil típico da abordagem que estamos dando.

O Propósito de Deus Para Sua Igreja:

“A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio tem sido plano de Deus que através de Sua igreja seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência. Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, compete manifestar Sua glória. A igreja é a depositária das riquezas da graça de Cristo; e pela igreja será a seu tempo manifesta, mesmo aos “principados e potestades nos Céus” (Efés. 3:10), a final e ampla demonstração do amor de Deus.” Ellen White, Atos dos Apóstolos, pág. 9.


A Igreja na Bíblia

O termo igreja não aparece no Antigo Testamento (AT) na Bíblia em Português.[1] No Novo Testamento (NT) a palavra utilizada no grego para Igreja é ekklesia que vem da preposição ek = ‘para fora de’ e Kaleo = ‘chamar’.[2] Chamar para fora seria o melhor sentido para a palavra igreja, sentido este que daria muito material para estudo, por exemplo: a igreja não foi chamada para ficar ocupada consigo mesma, mas para sair e executar fora dela o motivo de sua existência ou a igreja foi enviada para chamar um povo para fora de algum lugar ou atividade.

O termo geral ekklesia significa ‘chamar pessoas para um lugar público’ é traduzido como igreja, reunião de crentes como em 1 Co. 1:2; 12:28; 2 Co. 1:1; Gl. 1:2; 1 Ts 1:1, bem como era para uma assembléia comum como em At 19:32, 39 e 41.

A Septuaginta usa a palavra ekklesia como tradução do termo hebraico qâhâl tendo significado de congregação, assembleia ou outro corpo organizado. No NT é principalmente utilizado por Paulo.

Igreja: um Corpo Vivo

A igreja é considerada um órgão vivo, como um corpo. Não estamos falando aqui do templo de adoração, estamos falando da soma e união de irmãos numa cidade, estado, país, e no mundo. Estes irmãos em tempo de bonança estarão se reunindo em templos de diferentes estilos e construções e estarão se organizando em estruturas institucionais para melhor organizar-se para o cumprimento da missão a ela confiada.

Esta mesma igreja, pode em tempos de perseguição existir de maneira diferente. Pode se reunir na casa de alguém, debaixo de uma árvore, nos bosques ou nas montanhas.


Este corpo vivo, do qual Cristo é a cabeça, tem uma natureza divino-humana. Explico: a) Natureza divina: Aquilo que Deus faz é perfeito. Tudo o que é bom e perfeito vem de Deus Tg. 1:17. As iniciativas e ações para a salvação vêm todas de Deus. A segurança que vem de Sua imutabilidade (Ml. 3:6), a força que vem de Sua Palavra (Jo. 8:32) e do poder do Amor (Ct. 8:6), que é a maior tradução da pessoa de Deus (1 Jo. 4:7-8) e mais dezenas de coisas que sabemos e outras centenas e milhares de coisas que não sabemos sobre bondade e grandiosidade de Deus. b) Natureza humana: é aquilo de imperfeito, limitado e finito que fazemos e às vezes precisamos fazer para ter um mínimo sentido de ordem. Criamos estruturas e leis para não sucumbirmos ao caos que é tão típico onde há muita gente reunida e cada um tem os mesmos direitos.

A igreja não é invenção de homens, tanto que a Bíblia a chama de igreja de Deus (1 Ti. 3:15). A Bíblia insiste que não deixemos episunagǒgĕ (congregar-se, juntar-se) – note que o termo vem de sinagoga: o chamado é para que não deixemos de “sinagogar” ou de “igrejar”.

Por que a igreja é tão importante? Por que simplesmente não ceder ao apelo dos adesivos: “Jesus sim, igreja não!”? Qual o plano de Deus com a igreja que é tão importante para nós? Por que temos necessidade e dever de nos congregar? Qual é a função da igreja?

A Igreja e o Grande Conflito
O pano de fundo para a compreensão de todas as doutrinas, inclusive a da igreja, é o Grande Conflito entre o bem e o mal.
Estudaremos a natureza e função da igreja num escopo mais amplo, visto do ponto de vista mais amplo do Conflito cósmico entre Jesus e Satanás.

No contexto do tempo do fim, e da última pregação do evangelho eterno Ap. 14:7 diz que “é chegada a hora do Seu juízo…” O que é aqui? Deus julga ou está sendo julgado? Será que a idéia do julgamento de Deus é estranha à Bíblia? Quem seria capaz de julgar a Deus?

Rm. 3:4 – tirado de Sl. 51:4 afirma que vai haver um julgamento.

Deus está sendo julgado em Seu julgamento. O Juízo pré-advento está em pleno andamento no santuário celestial desde 1844. Os mundos não caídos, os anjos caídos e não caídos, bem como todo o nosso mundo, querem ver se em Deus se encontram ambos: amor e justiça.


Para cada pessoa em julgamento, Deus está sendo a Sua mais pura essência (Ele não consegue deixar de ser amor), exercido em forma de graça e misericórdia para com a situação que envolve aquela existência. Ao mesmo tempo e na mesma Pessoa divina, a justiça se cumpre de maneira plena e perfeita (Sl 89:14; 97:2).

Como os anjos caídos e não caídos estão julgando a Deus? Como podem eles conferir que Deus é o que Ele mesmo sempre afirmou de Si mesmo? Qual é o elemento aferidor?

1)   A vida de Jesus Cristo!

2)   A Cruz sucedida da ressurreição!

3)   A vida dos seguidores de Cristo!


Em Ef. 3:8-12 é mostrada toda responsabilidade da igreja diante dos poderes do bem e do mal. Em Rm. 16:19-20 diz qual vai ser a consequência de não fazermos a vontade de Deus. Em Mt. 7:21-23 Jesus declara toda a consequência de carregar o nome de Cristão sem viver o poder de Jesus 2 Tm. 3:5. No pastorado o melhor que vão fazer é “se introduzir pelas casas, levando cativas mulheres néscias, carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências, sempre aprendendo, mas nunca conseguindo chegar ao pleno conhecimento da verdade…” 2 Tm. 3:6-7.

Como Jesus pode esmagar Satanás debaixo de nossos pés? Como Ele pode reivindicar o seu caráter? Mt. 5:16 “…deixem a vossa luz brilhar…” Para que? “…para que vejam…”


No final, quando estivermos nos 1000 anos, nenhum dos fiéis súditos vai ficar com dúvidas sobre o caráter de Deus. Todos vão entender que na vida de cada ser humano desde o início deste mundo todas as chances foram oferecidas, e que cada um teve oportunidades diversas para escolher ao lado de Deus (mesmo entre as nações pagãs).


Com este entendimento de igreja, inserida no meio de um conflito, tendo que cumprir um papel elevado, precisamos levar a igreja a viver uma vida em constante santificação no ser e no fazer.

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Publicado por Dr. Berndt WolterNão comentado

[1] http://www.theopedia.com/Ecclesiology. Pesquisado em 10 de Fevereiro de 2008.

[2] Ibid.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Institucionalização: Estou eu Institucionalizado?

Num jornal televisivo local em Berlim, foram apresentadas duas notícias. A primeira era da Volkswagen, com problemas de integridade da diretoria, funcionários exigindo seus direitos, sindicatos pressionando, problemas com fornecedores, competitividade no mercado, os altos impostos governamentais sobre os produtos impedindo o consumo, etc., etc. A outra notícia era da empresa Google.com que estava sendo lançada na bolsa de valores quando teve a sua primeira injeção de dinheiro vinda da venda de ações. 27 funcionários, todos altamente motivados e afinados com os objetivos do empreendimento. A entrevista com alguns funcionários mostrava o alto nível de satisfação vivido por cada um deles e como estavam dispostos a sacrificar-se pela jovem empresa. Cada um tinha espaço para exercer sua criatividade e iniciativa. Cada iniciativa de criatividade recebia completo apoio e direito para exercer autonomia, pois quase que intuitivamente todos estavam afinados com a visão daempresa e todos os esforços confluíam para a mesma direção somando com a natureza da organização. Que contraste entre essas duas empresas?
Qual a diferença? O que faz uma estar tão amarrada e a outra tão cheia de possibilidades e opções? É realmente inevitável uma organização envelhecer? O que contribui para a sua degeneração e complicação de um sistema? É a tentativa de organizar as coisas para que haja mais controle por parte de quem lidera o processo? Seria a quantidade de pessoas que precisam ser lideradas que impõe um processo de despersonalização da organização? Quando inicia o processo de guinada do foco das pessoas para a instituição? Que filosofias estão por trás desse desvio de foco? Seriam essas filosofias que marcam o envelhecimento de uma organização baseadas em uma compreensão bíblica? Uma igreja local precisaria envelhecer e perder vigor? Uma organização de igrejas precisaria perder o frescor e pujança de seus inícios? O que marcou a Igreja Adventista do Sétimo dia em seus primórdios que a faziam viver o cristianismo com tanta esperança, energia e vigor?
Não sei se esse artigo pretende responder perguntas ou apenas elaborá-las… Vamos apenas dar alguns estímulos para o desenvolvimento do raciocínio sobre organizações de forma geral e especificamente de igrejas locais e suas organizações superiores. Leia esse artigo como um ensaio de raciocínios que precisam, com certeza, ser desenvolvidos. O leitor que fizer a leitura de crítica contra a igreja nesse ensaio, estará lendo crítica a partir de seus próprios olhos. Teremos que, no entanto, fazer perguntas que incomodem o status quo com o qual nos acostumamos.
A institucionalização é um assunto amplamente discutido em organizações que tenham certo tempo de vida. Procuramos a definição de INSTITUCIONALIZAÇÃO em vários dicionários: Institucionalização: Ato, processo ou efeito de institucionalizar. O que seria institucionalizar? Institucionalizar: Dar um caráter institucional a; tornar institucional. O que é algo institucional? Institucional: Relativo às instituições. O que seria uma instituição? Instituição: 1) Ação de instituir, de estabelecer. Instituição/estabelecimento de uma ordem religiosa. 2) As coisas instituídas. Conjunto de regras e normas estabelecidas para a satisfação de interesses coletivos.
Em outras palavras, quando uma organização perde a espontaneidade das pessoas para transformar as suas práticas em procedimentos padrão, quando existe a necessidade de organizar e controlar, ocorre passo a passo a institucionalização. Estou aqui defendendo a anarquia? NÃO!!! Pois esse seria o outro extremo indesejável. Se cada um faz aquilo que quer, nenhuma organização vai substituir pois não haverá organização.
A natureza da organização vai determinar que grau de institucionalização que poderá suportar, sem perder o seu objetivo fundamental. Se é uma fábrica de lentes de precisão, ou uma indústria de produtos químicos, é necessário que os profissionais que ali trabalham sejam exatos em cumprir as normas estabelecidas pela empresa, para que os produtos tenham uniformidade e o mercado que quer consumir um determinado produto, o receba dentro daquelas normas. No entanto se um posto de gasolina ou um grupo de Alcoólicos Anônimos impuser excessivas e desnecessárias regras provavelmente não irá alcançar os objetivos a que se propõe e cumprir com o propósito para qual foi fundado.
A natureza de uma igreja, organização que envolve pessoas, ideais, desenvolvimento de caracteres, precisa lidar com as típicas variabilidades que envolvem pessoas em suas diferentes experiências e manifestações. Diz a Bíblia: “tudo seja feito com ordem e decência…” então o processo que ocorre numa igreja precisa ter algum tipo de ordem e decência. Mas que ordem é essa? É a ordem exata dos polidores de lentes de precisão? É a ordem rigorosa de uma torre de controle que ajuda pilotos a pousar e decolar aviões? É a ordem de uma torcida de futebol, que quer prover divertimento aos seus participantes? Ou será a de uma associação de criadores de equinos que quer ajudar todos a ter os melhores cavalos?
A outra questão é, como é imposta esta ordem? Como em um exército? Como em um escritório de venda? Em um exército existem informações privilegiadas que apenas os mais graduados militares detém. A partir deles vêm as ordens que precisam ser obedecidas, sob pena de processo de insubordinação para aqueles que não obedecem. Ou será que a ordem e a liderança da igreja como organização deve seguir os padrões dos governos seculares? Vamos seguir o modelo de ditadura militar nos tempos de ditadura militar e organizar a igreja de acordo com essa percepção? Depois vamos mudar o estilo de liderança quando revoluções populares exigirem mudanças no estilo de governo?
Qual é a natureza da igreja, qual é o propósito pensado por Deus para ela nesse tempo do fim? Não é a compreensão da natureza da igreja que define que tipo de ordem e liderança será estabelecida. É mais temperada com amor? Só amor? É com o puro rigor da lei? É por praxes, programas e comandos de superiores? É dando ênfase no desenvolvimento das pessoas? Ou é uma ordem que quer apenas perpetuar um sistema por medo de mudanças?
As fases de desenvolvimento de uma organização
Toda organização passa por fases, assim como o ser humano mudam e amadurecem, ficam velhos e eventualmente vêm a morrer. Como diz o ditado popular: “o avô constrói, o pai mantém e o filho destrói…” Há várias teorias referentes ao envelhecimento de uma organização. Há diversas iniciativas para trazer de volta o vigor e força de organizações que perderam o foco. A boa notícia é que uma igreja pode ter vários ciclos de vida, se ela tiver coragem de buscar novo vigor – como temos falado ultimamente com frequência: “Reavivamento e Reforma” (clique AQUI para ir ao site oficial). Não apenas buscar renovação espiritual (que é a essência e o mais necessário), mas também buscar renovação organizacional para dar fluído mais natural à busca desse reavivamento e reforma de cada membro da igreja – voltaremos a esse assunto mais adiante. Abaixo o quadro das fases pelas quais uma organização passa.
Fonte: Recreating the Church, 25.
As 3 Fases na Curva de Maturação Institucional
Essas três fases são as principais (caracterizadas no quadro abaixo).
Depende da teoria organizacional que se assume, há outras divisões. Vamos seguir aqui as percepções de Richard L. Hamm, quando ele discute especificamente a igreja como organização. Em seu livro “Recreating the Church – Leadership for the Postmodern Age” ele discute a igreja em sua natureza e o que leva a igreja a passar por cada uma dessas fases.
FASE Movimento: no início de qualquer igreja, há mesmo resistência ao processo de se organizar, se instituir. É quando os pioneiros começam a se imaginar como um povo, com um propósito em comum. Há um forte debate sobre os fundamentos daquilo que o grupo quer ser e que código utilizarão para propagar o que estiverem descobrindo. No caso da IASD, foi no período pós decepção de 22 de outubro de 1844. Ali procuraram significado para o fato de Jesus não ter retornado no período que haviam descoberto. Aprofundaram-se mais no conhecimento da Bíblia e de suas implicações na vida de cada seguidor. Haviam muitos que visualizavam biblicamente a breve volta de Jesus ocorrendo. Os céticos, descrentes, duvidosos desapareceram com a grande decepção. Os visionários assumiram a frente e iniciaram um movimento ajudando outros a verem o que viam. Esse é um momento muito idealista e é justamente isso que energiza todos os que aderem ao movimento. A visão está clara e tão fundamentada na Bíblia como o grupo inicial consegue fazê-lo. Cada novo seguidor precisa passar pelo processo de adquirir a visão daquilo que o grupo inicial viu e está perseguindo. Cada novo adepto precisa entender o propósito daquele movimento e se envolver inteiramente para ser aceito. Não havia verdades finalizadas, pois o grupo estava em pleno processo de descobri-las. O investimento era principalmente no desenvolvimento do ser de cada novo converso. Como não havia recursos financeiros, cada adepto que compreendeu a visão bíblica para a existência do movimento precisava se envolver e ajudar. O fazer vindo do ser! A ousadia de uma fé ativa é fortemente reconhecida e desejada por cada integrante do movimento. Veja abaixo o resumo.
Fonte: Recreating the Church, 25-31.
FASE Institucionalização: aqui temos 3 momentos: 1) no início dessa fase os próprios visionários da IASD perceberam que precisavam se organizar. Perceberam que a “sua causa” não poderia sobreviver sem que um mínimo de sistema de procedimentos ocorresse, sem que estabelecessem o que seria coerente com a identidade que se estava cristalizando e o que não era compatível e que maneira iriam assumir para fazer a distinção e julgar os casos que fossem surgindo. 2) Nessa fase, uma compreensão comum toma conta de uma coletividade e pelos procedimentos básicos de organização implantados um crescimento surpreendente se apodera do outrora movimento. 3) O fato de na fase 2 os procedimentos organizatórios terem funcionado, fazem com que mais organizadores sejam desejados, como fórmula para um futuro crescimento. Nesse terço final, no entanto, a maior organização, a introdução de mais sistemas e procedimentos padronizados, a pressão para maior empenho sobre os seguidores não trazem resposta proporcional. Pelo contrário, finanças são investidas para espremer com mais força aquilo que já não dá mais o mesmo resultado. Ao invés de voltar ao pensamento original e trazer de volta os visionários para a discussão, há uma tentativa de institucionalizar ainda mais aquilo que já está institucionalizado demais, aquilo que precisaria ser desinstitucionalizado em áreas onde não fosse estritamente necessário. Nesse terço final da segunda fase, ainda se experimenta a prosperidade financeira adquirida no segundo terço da mesma fase, o que mantém o sistema iludido que tudo está indo na direção certa e mantém o mesmo vigor. As pessoas no entanto estão se desidentificando com o processo de institucionalização, pois aquilo que buscam – significado para sua vida pessoal – é deixado em segundo plano pois a tentativa de perpetuação da instituição, ou pelo menos, a proteção dela toma a atenção principal dos envolvidos.
FASE Burocratização: Nessa fase entra a organização que não tomou as providências necessárias até no máximo no terço final da fase da Institucionalização. Na igreja pode ser que algumas geografias manifestem os sintomas do quadro acima antes que outras geografias. No artigo “Uma Trajetória Quase Inevitável” (clique AQUI para ver) são apresentadas 3 geografias que quase como que numa sequência manifestam os sintomas típicos dessa Fase da Burocratização: Europa, Estados Unidos e Brasil – sendo que segundo os sintomas, o Brasil deve estar no último terço da fase da Institucionalização (ainda com tempo de fazer o processo retroceder, sem os efeitos degenerativos que se colhe na terceira Fase).
Há Esperança!
Se forem tomadas as devidas medidas os efeitos negativos do processo podem ser minimizados e a igreja pode mesclar elementos da fase do Movimento onde é necessário e experimentar o que chamamos de Revitalização Institucional. Veja o quadro abaixo.
Há algumas medidas imprescindíveis para que essa revitalização ocorra (veja continuação depois do quadro).
Fonte: Núcleo de Missões e Crescimento de Igreja
 
As Medidas Necessárias*:
a) Envolver Visionários no processo decisório da igreja. Visionários equilibrados olham para o ideal a ser perseguido e energizam o sistema com as possibilidades que podem existir. A igreja gosta de se apegar ao ideal sugerido pela Bíblia. Transformar o ideal bíblico em prática na igreja local de tal maneira que a lá onde igreja acontece se realize no serviço que presta, é sabedoria que precisamos incentivar.
Visionários geram, como efeito colateral algum desconforto para as típicas mentes institucionalizadas (sem conotação negativa), mentes que pensam em formato de programa e sistema. Respeito e honro os que estão nos cargos de proteger a instituição e de organizá-la mais, mas dar ouvidos aos “sonhadores” simultaneamente, aos que pensam no ideal da igreja, aos que pensam diferente do status quo, vai ajudar a igreja a não apenas preservar o que temos, mas a energizar pessoas (membros das igrejas) com a percepção de que estão sendo ouvidos.
2) Investir no desenvolvimento humano. Temos cultos e atividades na igreja, mas não temos, ou não temos mais um sistema de acompanhamento sistemático do desenvolvimento espiritual e desenvolvimento pessoal (integral – mente, corpo, espírito) de cada membro. Um processo de discipulado, que não tenha medo de tomar tempo até levar as pessoas à “estatura da medida de Cristo” (Ef. 4), precisa ser instalado como foco principal, como meio de adoração mais central da igreja – pois não há adoração melhor do que um coração sintonizado com a vontade de Deus (I Sm. 15:22; Sl. 51:17) e nós Adventistas somos chamado à adoração mais intensa no tempo do fim (Ap. 14:6-12). Veja AQUI toda a seção sobre discipulado.
3) Valorizar os dons mais do que os cargos. A excelência no serviço vem de uma mescla de conhecer os dons, sentir-se chamado por Deus para exercê-los, estar capacitado para exercer os dons e prover espaço dentro da instituição para que cada membro trabalhe em um ministério onde possa viver todas as dimensões de seu dom.
Ao criar um ambiente para o serviço desinteressado de acordo com os dons de cada membro, a igreja precisa se estruturar para que isso possa acontecer. Se mantivermos a estrutura de cargos e departamentos que temos hoje na igreja local, haverá fidelidade institucional, mas a ação do Espírito vai ser limitada pelas estruturas inadequadas que temos para esse momento do desenvolvimento institucional. (veja o artigo sobre Dons Espirituais AQUI e baixe o teste de dons. Veja AQUI os 10 passos para implantar os Ministérios segundo os dons na igreja local).
4) Dar mais espontaneidade ao processo da igreja local. A formalidade exagerada não é mais apreciada por nossa época, e não há nenhum princípio bíblico que é ferido por marcar as atividades da igreja com mais espontaneidade. Não entenda o leitor que eu estou falando de relaxo! Pelo contrário, fazer as coisas de Deus com mais excelência e maior dedicação, sem, no entanto marcar tudo com a frieza da formalidade excessiva.
5) Desengessar atividades e processos. A maior marca do avanço da institucionalização numa organização é quando processos, atividade e métodos não surgem ali onde devem ser executados. Quando há muita distância da mesa de planejamento para o assoalho da execução, o processo de desenvolvimento de pessoas e o seu empenho pela igreja emperra. As pessoas vão se desidentificando do trabalho da igreja quando não podem exercer a sua criatividade e autonomia. Quando não têm o direito de colocar o seu coração naquilo que estão fazendo, mas apenas executam as idéias de outros, há desmotivação e falta de adesão aos projetos.
Se numa igreja institucionalizada, um grupo de 15 a 20 pessoas podem viver com criatividade, iniciativa e autonomia ao planejar e promover – e estes ficam animadíssimos quando o fazem – imagine o que aconteceria com a membresia de todo esse território se tivessem o mesmo direito? Imagine o entusiasmo que surgiria se os membros da igreja pudessem sonhar, fossem conduzidos nesse processo e tivessem o direito de assistidos, desenvolverem os projetos que em oração elaboram, para as situações reais que as cercam no dia a dia no lugar específico onde estão.
6) Promover a centralidade da igreja local: Onde é que acontece igreja? Onde ocorre o processo de conversão? Onde ocorre o batismo, o discipulado? Onde pessoas tomam decisões por Cristo? É na igreja local e é ali que precisa haver a maior liberdade para execução de um trabalho local. Esse artigo não está defendendo o congregacionalismo, não! Estamos afirmando que lá onde igreja acontece, precisa ser o centro das atenções. As outras estruturas que temos como igreja Adventista desde o início – quando profeticamente foram confirmadas – foram criadas para servir a igreja local e dar-lhe apoio estratégico e logístico. A estrutura foi instituída com a finalidade de proteger a igreja local para que ela pudesse fazer o seu trabalho. A igreja local nunca deveria estar a serviço da organização – esse é outro dos grandes sinais de institucionalização.
Há algumas ferramentas a disposição da igreja local para que o trabalho seja fortalecido e ela possa se entender e entender o propósito que Deus teve ao instalá-la no local onde ela está. Um diagnóstico adequado da igreja internamente (veja AQUI e AQUI), uma compreensão da realidade que a cerca (veja AQUI) e planejamento estratégico (veja AQUI, AQUI e aulas em vídeo sobre planejamento estratégico específico para igrejas AQUI) para saber por onde ir e o que fazer.
7) Alinhar procedimentos administrativos com princípios bíblicos. É muito fácil quem administra assumir práticas e procedimentos baseados em filosofias administrativas alheias à Bíblia. À primeira vista parece que empresas de modo geral têm muito para nos acrescentar na condução da igreja de Deus. Quando esses procedimentos não são regularmente reestudados debaixo dos princípios de justiça, de amor, da individualidade de cada pessoa envolvida no processo, podem ser infectados com as percepções de capital X trabalho (K. Marx) ou de outras compreensões.
Conclusão: Ainda estamos num momento muito bom na igreja no Brasil e com o vigor e juventude que ainda temos na igreja, precisamos fazer os ajustes com sensibilidade, equilíbrio, com muito diálogo, mas também com coragem. Se continuarmos como estamos, já conhecemos a trajetória – veja AQUI.
Continuidade nem sempre quer dizer progresso. Jesus confrontou o seu tempo com mudanças e o povo não quis. Se queremos recuperar o vigor que a igreja precisa para terminar a pregação do evangelho, precisamos urgente tomar as medidas necessárias. Que Deus nos ajude e que nos dê sabedoria ao longo desse caminho, mas que principalmente nos encha de coragem para fazê-lo.
*Fazemos essas sugestões com muita humildade, apenas como um estímulo ao raciocínio, não como uma tentativa de ingerência administrativa.