segunda-feira, 19 de setembro de 2011

CONFIANÇA DE ALEXANDRE E O MÉDICO

A confiança de Dario aumentou ainda mais quando se convenceu de que era por covardia que Alexandre se demorava na Silícia. Mas o que detinha Alexandre naquele lugar era a doença, atribuída por uns ao seu cansaço, por outros a um banho tomado no Cinnus, cujas águas são geladas. Os médicos, persuadidos de que o mal estava acima de todos os remédios, não ousavam ministrar-lhe os socorros necessários, com medo de provocar, se não conseguissem curá-lo, o ressentimento dos macedónios. Só Filipe – o Acarnaniano – venceu esse receio. Vendo o rei em perigo extremo, contando com a amizade que Alexandre tinha por ele e considerando ainda a vergonha porque passaria se não se expusesse ao perigo para salvar aquela vida ameaçada, experimentando, para salvá-la, os últimos remédios e arriscando tudo, propôs-lhe um tratamento e convenceu-o de que devia confiar, se é que desejava tanto sarar e ficar em condições de continuar a guerra.
Nessa ocasião, Alexandre recebera uma carta que Parmenion lhe enviara do campo, avisando-o de que devia pôr-se em guarda contra Filipe. Dizia a carta que Filipe, seduzido pelos ricos presentes de Dario e pela promessa de casar com a filha, se comprometera a provocar a morte a Alexandre. O rei leu a carta e, sem a mostrar a nenhum dos seus amigos, guardou-a debaixo do travesseiro. No momento oportuno, Filipe acompanhado pelos médicos, entrou no quarto, com o remédio que trazia numa taça. Alexandre deu-lhe com uma das mãos a carta de Parmenion, e, tomando com a outra a taça, engoliu o remédio de um só gole, sem deixar transparecer nenhuma suspeita. Foi admirável o espetáculo, uma cena deveras teatral, ver os dois homens, um a ler, o outro a beber, depois de se olharem, mas um e outro de maneira bem diferente. Alexandre, com o rosto risonho e satisfeito, atestava a seu médico a confiança que nutria nele. E Filipe indignava-se contra a calúnia, ora chamando os deuses para provar a sua inocência, com as mãos levantadas para o Céu, ora jogando-se sobre a cama de Alexandre e exortando-o a ter esperança e a deixar-se guiar por ele sem receio.
O remédio, provocando forte reação, começou a produzindr um grande abatimento no corpo, tirando-lhe e reprimindo-lhe, por assim dizer, todo o vigor até nas fontes da vida; e isto a ponto de Alexandre desmaiar, sem mais voz e apenas com um resto de pulso e de sensibilidade. Mas, os socorros de Filipe fizeram-no logo recuperar as forças e aparecer aos macedónios, cuja inquietação e pavor só cessaram ao tornarem a ver Alexandre". – Alexandre e César.

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