domingo, 13 de abril de 2014

Cristo e a lei de Moisés

Texto principal:
"Se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em Mim; porquanto ele escreveu a Meu respeito" (Jo 5:46).

Muitos cristãos conheceram histórias sobre a relação supostamente negativa de Jesus para com a religião judaica, um equívoco lamentável que só ajudou a alimentar o antissemitismo (aversão aos judeus) ao longo dos séculos. Jesus falou contra os abusos da religião, isso é verdade, mas não contra a própria religião. Afinal, Ele foi o fundador dela.

De fato, os relatos dos evangelhos sobre Sua vida e ministério mostram que Jesus era um judeu fiel, totalmente imerso na cultura judaica, desde o momento de Seu nascimento até a última semana de Sua vida na Terra.

Como todo judeu fiel no primeiro século, Jesus estava sujeito à lei mosaica. Criado em um lar de pais judeus fiéis, Ele apreciava plenamente Sua rica herança terrena, enraizada na providência divina. Ele sabia que Deus havia inspirado Moisés a escrever essas leis, com o objetivo de criar uma sociedade que refletisse Sua vontade e servisse como farol para as nações. Ele cumpriu fielmente a letra da lei. Na circuncisão, na Sua visita ao templo para as festas e na Sua atitude sobre os impostos, Jesus permaneceu fiel a um sistema que seria cumprido por Sua morte na cruz e ministério celestial. Mesmo sabendo como tudo seria cumprido, Ele foi fiel.

Nesta semana, examinaremos mais algumas leis que o próprio Jesus cumpriu.

Circuncisão e dedicação (Lc 2:21-24)
Deus estabeleceu Sua aliança com Abraão, dizendo que ele seria o pai de muitas nações (Gn 17:4). Quando Deus fez essa aliança, Abraão estava com 99 anos de idade, tendo gerado Ismael poucos anos antes, e ainda não tinha visto o nascimento de seu filho prometido, Isaque. No entanto, ele foi instruído a circuncidar-se, assim como todos os homens de sua casa, e foi orientado a garantir que cada filho nascido em sua casa, a partir daquele dia, fosse circuncidado ao oitavo dia (Gn 17:9-12). Esse sinal era tão importante que a circuncisão ocorria mesmo que o oitavo dia caísse em um sábado (Lv 12:3; Jo 7:22).

Essa verdade nos dá uma compreensão melhor dos primeiros dias da vida de Jesus. Os evangelhos mostram que José e Maria foram escolhidos para ser os pais terrenos de Jesus, pelo menos em parte, por causa da sua piedade. José é descrito como um "homem justo" (Mt 1:19, NVI), e o anjo disse a Maria: "Achaste graça diante de Deus" (Lc 1:30). Quando Jesus tinha oito dias de vida, Seus pais realizaram a cerimônia da circuncisão e Lhe deram o nome, da mesma forma que havia ocorrido com um número incontável de meninos hebreus em tempos passados.

Imagine, o imaculado Filho de Deus, agora em forma humana, passando pelo mesmo ritual que Ele havia instituído muitos séculos antes!

1. Leia Lucas 2:21-24 à luz de Êxodo 13:2, 12 e Levítico 12:1-8. O que esses textos nos dizem sobre José e Maria? O que podemos aprender com o exemplo deles?

A Bíblia é clara ao dizer que Maria era virgem quando foi escolhida para ser a mãe de Jesus (Lc 1:27). Então, Jesus foi o primeiro filho que "abriu seu ventre". De acordo com Êxodo 13, todo primogênito entre os filhos de Israel (de animal ou humano) devia ser dedicado ao Senhor. A lei também determinava em Levítico 12:2-5 que, após o nascimento de um menino, a mulher ficava impura por 40 dias
(80 dias se fosse menina). No fim desse período, ela devia se apresentar ao sacerdote e oferecer um sacrifício. Como judeus piedosos, Maria e José cumpriram meticulosamente as obrigações da lei mosaica e garantiram que o Filho de Deus levasse as marcas da aliança.

Festas judaicas (João 5:1)
"Passadas estas coisas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para Jerusalém" (Jo 5:1).

O primeiro grande período festivo no ano civil judaico eram os sete dias dos pães asmos, que começavam com a Páscoa. O festival comemorava a libertação dos israelitas da escravidão do Egito, quando o anjo da morte passou por cima (a palavra Páscoa significa passar por cima) das casas dos que colocaram o sangue nas ombreiras das portas.

2. Quantas vezes Jesus celebrou a Páscoa? Lc 2:41-43; Jo 2:13-23; Mt 26:17-20

Cinquenta dias após a Páscoa ocorria a festa de Shavuot, muitas vezes referida pelo seu nome grego, Pentecostes. Embora as Escrituras não apresentem uma razão para o Pentecostes, os rabinos acreditavam que o festival comemorava a entrega da lei a Moisés. Não há registro nos evangelhos de que Jesus tivesse celebrado o Pentecostes. No entanto, antes de Sua ascensão Ele aconselhou Seus discípulos a esperar em Jerusalém pelo batismo do Espírito Santo (At 1:4, 5). Esse evento realmente ocorreu no Dia de Pentecostes (At 2:1-4).

O último período de festas do ano civil judaico era a Festa dos Tabernáculos (Festa das Cabanas) e o Dia da Expiação (Yom Kippur). O Dia da Expiação representa o dia em que o pecado era purificado do acampamento e o povo estava em harmonia com Deus. A Festa das Cabanas comemorava o tempo em que Israel teve que viver em tendas no deserto.

Além das festas das leis de Moisés, os judeus têm outros dois festivais que comemoram a intervenção
histórica de Deus. O primeiro é Purim, que marca o livramento do povo judeu do genocídio, quando Ester apelou ao rei persa. O segundo é Hanukah, também conhecido como a Festa da Dedicação (Jo 10:22), que celebrava a vitória dos macabeus sobre os gregos em 164 a.C.

As festas bíblicas foram eliminadas há muito tempo, pelo menos para os cristãos. Todas elas encontraram seu cumprimento em Cristo. No entanto, podemos aprender muito ao estudá-las e considerar as mensagens que elas contêm, porque todas elas ensinam lições sobre a divina graça salvadora e Seu poder para libertar.

Embora não mais realizemos as festas bíblicas, o que podemos fazer para manter diante de nós a realidade de Deus, o que Ele fez por nós e o que Ele nos pede?

Jesus no templo
O Novo Testamento não nos diz muito sobre a infância de Jesus. Um relato, porém, que traz grande discernimento é o de Lucas 2:41-52, a história da visita de Jesus e Seus pais a Jerusalém durante a festa da Páscoa.

3. Com base em Lucas 2:41-52, responda às seguintes perguntas:
a. Como essa história ilustra o caráter judaico dos evangelhos e a centralidade da religião em tudo o que acontecia?
b. Qual é a importância do fato de que essa história aconteceu durante a Páscoa?
c. Por quantos dias os pais de Jesus não conseguiram encontrá-Lo? Que lembrança isso traz a você?
d. Embora Jesus fosse uma criança obediente, Sua resposta aos pais parece ter sido quase uma repreensão. Que ponto importante essa resposta contém? O que isso nos diz sobre o que deve ter prioridade em nossa vida?

Leia Lucas 2:51. O que significa a submissão de Jesus? Como esse verso nos dá ainda mais compreensão sobre a condescendência de Deus para nossa salvação? O que isso nos ensina sobre a necessidade de submissão na hora e no lugar certos?

Impostos (Mt 17:24-27)
Como foi mencionado na lição da semana passada, a lei de Moisés tinha componentes civis e cerimoniais. O aspecto cerimonial significa que o templo estava no centro da vida religiosa judaica. De fato, no primeiro século, provavelmente o templo fosse a única estrutura remanescente que dava aos judeus algum senso de identidade nacional.

O templo que estava em Jerusalém passou por reformas durante o ministério de Jesus. Herodes, o Grande, tinha iniciado o grandioso projeto em cerca de 20 a.C., e a obra não seria totalmente concluída até 66 d.C. Reconhecendo a seriedade com a qual muitos judeus lidavam com a fé, os romanos permitiram que eles coletassem os próprios impostos, a fim de cobrir os custos envolvidos com a manutenção do templo. Todo judeu do sexo masculino com mais de vinte anos devia pagar o imposto de meio siclo (um siclo equivalia a cerca de 12 gramas), independentemente de sua condição econômica (Êx 30:13; 38:26).

4. Leia Mateus 17:24-27. O que Jesus quis dizer quando declarou: "[...] para que não os escandalizemos"? Qual princípio contido nessas palavras devemos aplicar em nossa vida?

Parece que os coletores de impostos do templo viajavam por todas as províncias para assegurar que todo homem cumprisse sua obrigação legal. A resposta inicial de Pedro aos cobradores de impostos dá a impressão de que Jesus pagava regularmente Seus impostos (Mt 17:24, 25). No entanto, como Filho de Deus, Jesus parece questionar a cobrança do imposto para a manutenção da casa de Seu Pai. Ele não deveria ser isento?

"Se Jesus houvesse pago o tributo sem protestar, teria, virtualmente, reconhecido a justiça da reivindicação [de que Ele devia pagar], tendo assim negado Sua divindade. Mas ao passo que viu ser bom satisfazer à exigência, negou o direito sobre o qual ela estava fundamentada. Provendo o necessário para pagamento do tributo, Ele deu o testemunho de Seu caráter divino. Foi demonstrado que Ele era um com Deus e, portanto, não Se achava sob tributo, como um simples súbdito do reino" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 434).

No entanto, Jesus escolheu sujeitar-Se às autoridades e ordenou que Pedro tirasse a moeda para o imposto da boca do primeiro peixe que ele pegasse. O siclo na boca do peixe foi suficiente para pagar o imposto de Jesus e Pedro.
Jesus pagou o imposto do templo, mesmo sabendo que aquela magnífica estrutura em breve seria destruída (Mt 24:1, 2). O que isso deve nos dizer sobre nossa obrigação de ser fiel nos dízimos e ofertas, independentemente dos problemas que cremos que existam?

Aplicação da lei (Mt 5:17-20)
Como vimos, Jesus foi um cidadão fiel que cumpriu Suas responsabilidades como judeu, mesmo quando Sua vida estava em perigo (leia, por exemplo, João 7:1, 25, 26; 10:31). Na verdade, Jesus deixou claro que não era Seu propósito abolir "a Lei ou os Profetas" (Mt 5:17-20).

5. Como, então, devemos entender João 8:1-11 e Mateus 19:1-9, à luz de Deuteronómio 22:23, 24 e 24:1-4?

Alguns dos fariseus estavam sempre tentando expor Jesus como um transgressor da lei (leia, por exemplo, João 8:6). Quando apresentaram a Ele a mulher apanhada no ato de adultério, colocaram a seguinte questão: "Na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; Tu, pois, que dizes?" (João 8:5). Curiosamente, Jesus não respondeu diretamente à pergunta. Na verdade, Ele confirmou a lei de Moisés com Sua resposta: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra" (Jo 8:7). Ele não disse que ela não deveria ser apedrejada, mas simplesmente obrigou esses homens a pensar em suas próprias transgressões da lei. Mesmo a liberação da mulher estava em harmonia com a lei de Moisés, porque ninguém ficou para apontar um dedo acusador, e pelo menos duas testemunhas eram necessárias para administrar a justiça (Dt 17:6).

No incidente sobre divórcio e novo casamento, Jesus parece contradizer a lei de Moisés com Sua insistência em afirmar que originalmente não havia fundamento para o divórcio (Mt 19:4-6). Quando os fariseus mencionaram o mandamento de Moisés em Deuteronómio 24:1-4, Jesus colocou tudo na devida perspectiva. Em nenhuma parte Moisés ordenou o divórcio. No entanto, por causa da obstinação do povo, Moisés estabeleceu uma "tolerância" para o divórcio (Mt 19:8). Assim, vemos que, mesmo quando Jesus avaliou uma lei de Moisés, Ele não a desprezou. Jesus era um judeu fiel em todos os sentidos, obedecendo às leis de Moisés.

Como podemos equilibrar justiça e graça para os que caem em pecado? Se é inevitável errar, seria melhor errar ao lado da justiça ou da misericórdia? Por quê?

Estudo Complementar
Leia de Ellen G. White, O Desejado de Todas as Naçõe, p. 447-454: "Na Festa dos Tabernáculos"; p. 455-462: "Por Entre Laços".

"Três vezes por ano era exigido dos judeus que se reunissem em Jerusalém para fins religiosos. Envolto na coluna de nuvem, o invisível Guia de Israel havia dado instruções quanto a essas reuniões. Durante o cativeiro dos judeus, elas não puderam ser observadas; […] Era desígnio de Deus que esses aniversários O trouxessem à mente do povo" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 447).

"Era natural que os pais de Jesus O considerassem seu filho, pois Ele estava diariamente com eles. Em muitos aspectos, Sua vida era como a das outras crianças. Era difícil para os pais compreender que Ele era o Filho de Deus. Estavam em risco de deixar de reconhecer a bênção concedida a eles pela presença do Redentor do mundo. A aflição de sua separação dEle, e a branda reprovação contida em Suas palavras, tinham o objetivo de impressioná-los quanto à santidade do que lhes fora confiado" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 81).


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