sexta-feira, 12 de abril de 2013

As Duas Estruturas de uma Igreja

Dentro de cada igreja local e consequentemente a outros níveis do corpo de Cristo sobre a Terra, temos duas estruturas: a estrutura Missional e a estrutura Congregacional.
As duas são distintas em função e natureza, apesar de fazerem parte da mesma igreja. As duas podem complementar-se ou colidir. Paulo insiste em diversos texto pela unidade da fé (cf. 1 Co. 1:10; Ef. 4:3 e 9-16; Cl. 2:2). As diferenças que as duas apresentam podem ser fonte de confrontos e conflitos internos na igreja, mas não é bom que seja assim.
Houve confronto entre personalidades e os seus seguidores no passado, mas Paulo apelou: “…cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. Será que Cristo está dividido? foi Paulo crucificado por amor de vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” 1 Co. 1:12-13.
E ainda: “Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho.” I Co. 3:6-8.
A insistência de trabalharem em equipe, se ajudando mutuamente era a pregação de Paulo. O plano de Deus é que estas estruturas sejam complementares assim como um homem e uma mulher se complementam em um casamento.
Estrutura Congregacional:
  • É mais para Igreja – funciona como igreja estabelecida. É conhecida e reconhecida no local onde está situada. É como sefosse um exército.
  • Governo: Consenso – As decisões são tomadas em comissão, por votação e segue-se a vontade da maioria.
  • Foco: Gente – Pessoas e o seu bem-estar são o foco da igreja. Existe a tendência de prover conforto e programas agradáveis para que as pessoas, membros da igreja, se sintam bem.
  • Compreensão de si: Pluralística – Tem uma auto-imagem de diversas frentes de ação e funções. Pensa-se em termos de complexidade e de harmonia entre todos as atividades e ministérios da igreja. Tendência para tratar todos os ministérios de maneira igual em poder de decisão, espaço de tempo nos programas e orçamento para trabalho.
  • Prioridade: manutenção – Manter e melhorar o que se tem é a prioridade.
  • Lento em fazer mudanças – Como há muitas comissões, e todos querem o direito de voz e voto em cada questão que se apresenta na igreja, a máquina tende a ser lerda e difícil de mudar de direção. Como esta estrutura provê estabilidade, qualquer tentativa rápida de mudança de rumo é vista com suspeita e medo.
  • Preocupações múltiplas – Há muitos departamentos, e ações ocorrendo simultaneamente: Jovens, ADRA, Ministério da Mulher, Escola Sabatina, diaconato, departamentos infantis, Desbravadores, Aventureiros, etc… Todos querem promover seu departamento e seus programas. Calendário se torna difícil de administrar, nas finanças se torna quase impossível conseguir atender a todos de maneira satisfatória.
  • Consolida avanços – Os avanços adquiridos são consolidados pela estrutura Congregacional. Se a Missional invade e conquista um espaço a estrutura Congregacional a consolida e fortalece institucionalizando-a.
  • Enfatiza o “SER” – Programas incentivando o aprofundamento espiritual, a santificação enfatiza o desenvolvimento do ser, o caráter, a moral, a boa reputação são exaltados. Tende a transmitir a mensagem subliminar de que se eu estou bem diante de Deus eu não tenho que fazer nada.
  • Crescimento Biológico: tende a crescer numericamente não por batismos, talvez por transferências se a programação for boa, mas mais pelos filhos que nascem a membros da igreja.
  • Nível de comprometimento baixo – O envolvimento é limitado, pois poucas igrejas conseguem envolver os 60% de membros envolvidos em alguma atividade recomendados para a saúde de uma igreja. Como o envolvimento é limitado o comprometimento com a igreja local é limitada. As pessoas vêm quando o programa é bom ou o pastor é bom pregador, não para crescerem como discípulos maduros e assumirem o seu ministério diante de Deus. Tende a produzir aquela satisfação de dever cumprido no fato de ir à igreja.
  • Alimenta espiritualmente – A estrutura alimenta o rebanho e pode levá-lo à compreensões mais profundas do evangelho e da vida. Tende a intelectualizar o que espiritual/relacional e teorizar aquilo que é prático.
  • Burocrático, complicado: tende a ser burocrática, usando as suas estruturas institucionalizadas para controlar e sistematizar iniciativas e esforços, complicando ações que seriam relativamente simples em seu plano inicial.
  • Controla, supervisiona, estrutura – a frase “isto tem que passar pela comissão” é freqüente. Os líderes querem, e para o bom funcionamento (como o entendem) precisam supervisionar e controlar as ações que são realizadas em nome da igreja.
  • Cuida de pontos doutrinários e crenças – Em sua busca de estabilidade e segurança promove um corpo de crenças para prover unidade na fé e pensamento entre os crentes. Explica o entendimento que tem de cada ponto doutrinário da Bíblia.
  • Protege a igreja e suas tradições – Protege patrimônio, finanças e estruturas estabelecidas. Promove o nome da instituição
  • Tende a engolir a estrutura Missional – Como a estrutura Missional é exposta a situações inusitadas, precisa espaço e poder para tomar decisões rápidas; simultaneamente não é geradora direta de recursos financeiros, pelo contrário consome os recursos que a igreja local produz; a ênfase e desafio da igreja direcionam a cultura organizacional para a mentalidade Congregacional, muito menos para a Missional. Estes e outros fatores impelem a estrutura Congregacional de engolir e neutralizar a estrutura Missional, mesmo sem intencionalidade.
  • Busca equilíbrio e estabilidade – há diversos elementos de diferentes naturezas que cooperam com este fenômeno, entre elas:
  1. Familiaridade: o valor de reconhecimento que as pessoas precisam para se identificar com uma instituição e seus programas. Há elementos que precisam estar presentes em um culto público regular para que seja feito com ordem e decência. Estes elementos precisam ser repetidos, para se tornarem familiares. O efeito colateral é que ao se repetir suficientes vezes para que o efeito de familiaridade se instale na mente das pessoas, estes elementos viram tradição e se praticados por muito tempo, viram ícones que recebem valor sagrado intocável. Conseguiu-se a estabilidade, mas instalou-se um elemento que em sua natureza não tem nada de sagrado, porém é considerado por aquela comunidade de fé como tal.
  2. Cansaço de um mundo instável: As pessoas que são convertidas na fundação da igreja, e as outras que vão se unindo a esta igreja, vieram de um mundo de pecado e instabilidade. A igreja se torna um porto seguro, um local de descanso, onde não precisam temer as mesmas instabilidade e inseguranças que tinham “lá fora no mundo”.
  3. Corpo Doutrinário: “o que cremos como igreja?” é a pergunta que move a estrutura Congregacional na busca de definição de seu corpo doutrinário. Para não ficar à mercê de constantes e desgastantes controvérsias e explicações, a estrutura Congregacional tende a buscar definições e clareza naquilo que a igreja deve crer. Pessoas são admitidas e removidas com base neste código organizado. Os valores que uma igreja encontra na Bíblia são sistematizados pelas ciências de estudo e interpretação das escrituras e foco é dado num mínimo aceitável para que quem quiser participar desta igreja creia.

Estrutura Missional:

  • É mais para seita (para-igreja) – Funciona como uma seita, um movimento. Não é conhecido e não tem localização específica. Funciona como um batalhão de táticas especiais.
  • Governo: Missão – As decisões são tomadas com base na utilidade da decisão para o cumprimento da missão. Se um grupo destoar e não quiser deixar a missão governar as decisões, é excluído.
  • Foco: Tarefa – O alvo a ser cumprido neste momento e local dá o foco para toda a atividade e recursos.
  • Compreensão de si: “nós e outros” – Uma compreensão peculiar de identidade e missão marca a estrutura Missional.
  • Prioridade: expansão, extensão – Avançar é a máxima. Conquistar pessoa a pessoa para o Reino de Deus, conquistar território a território é prioridade, o resto é todo secundário e recebe pouca ou nenhuma atenção.
  • Ágil em fazer mudanças – Como o grupo é pequeno e as prioridades e foco estão claros, não há muito tempo para perder em grandes discussões e votações democráticas. Muitas vezes aquele que no momento está mais sintonizado dá a ordem e os outros se submetem.
  • Preocupações concentradas – Há uma preocupação: pregar, pregar, pregar e uma que é conseqüência quase que natural, colher.
  • Faz os avanços – A estrutura Missional está toda voltada e se realiza com os avanços que faz. A cultura corporativa e os valores da Estrutura Missional incentivam e premiam o avanço. Há realização pessoal no avanço e conquista. A covardia e insegurança são reprimidas.
  • Enfatiza o “FAZER” – as realizações e consecuções são aplaudidas e aquilo que é feito valorizado. O desenvolvimento do “SER” é visto como uma consequência do “FAZER”. Ao eu dar estudos para as pessoas eu desenvolvo a paciência, o amor e a humildade.
  • Crescimento por conversão – A estrutura Missional não está interessada em crescimento por transferência ou por nascimento. Não quer nem administrar este crescimento. A única coisa que interessa é ganhar almas que ainda não pertencem ao Senhor para o Seu Reino.
  • Nível de comprometimento alto – Cada um que faz parte da Estrutura Missional, sabe a dor e a alegria de se ganhar uma alma para o Reino de Deus. Como conseqüência a convicção é forte e o envolvimento e comprometimento como projeto em questão é altíssima. Dificilmente alguém que participa da Estrutura Missional não é auto-motivado.
  • Desafia espiritualmente – A Estrutura Missional pressupõe bem-estar espiritual e passa rápido para o desafio. A frase mais ouvida é: “Se você é cristão, então como você não gosta de pregar o evangelho?”
  • Fácil, descomplicado – como a Estrutura Missional é simples na organização, nos objetivos, no propósito e no foco, não há complicações.
  • Delega, avança, cria estruturas simples – O nível de comprometimento é alto, a missão está clara, se há mais trabalho do que certo grupo pode dar conta, a Estrutura Missional não tem dificuldades de delegar.
  • Prega doutrinas e crenças – O conteúdo ensinado é organizado conforme a necessidade do grupo de ouvintes. Claro que se preocupam com a ortodoxia do conteúdo, mas estão mais preocupados com a transmissão do conteúdo.
  • Ataca na frente de batalha – Enquanto a estrutura Congregacional está preocupado em proteger a igreja e suas tradições, a Missional quer expandir a igreja e não liga nenhum pouco para as tradições.
  • Tende a se ressentir contra a Estrutura Congregacional – Como partem de pressupostos diferentes e tem alvos diferentes as duas estruturas tendem a ter problemas uma com a outra. Como quem detém os recursos financeiros e o poder de mando é a Estrutura Congregacional, a Missional tende a se ressentir, pois sempre é muito difícil conseguir as coisas e avançar dependendo da Congregacional.
  • Pronto a enfrentar lutas e desconfortos – Está disposta a enfrentar as dificuldades ligadas à pregação do evangelho por causa da clareza que tem de ser este o objetivo principal da existência de uma igreja.

As duas Estruturas frente a frente:

Há necessidade das duas estruturas na igreja. Se houver apenas uma o corpo morre. Se apenas a Congregacional subsistir, ela vai se consumindo pela autofagia inevitável de igrejas que se concentram em si. Como diz Allison & Anderson: “Quando uma igreja se concentra em si, ela morre!”[1] Por outro lado se houver apenas a estrutura Missional, ela não subsiste por falta de organização e recursos financeiros que a apoiem.
Diz a estrutura Congregacional que “um corpo sobrevive sem pernas, por mais que seja difícil”. A estrutura Missional afirma: “se vocês não ajudarem avançaremos pela fé.” Ambas têm teor de verdade alto, mas por que não trabalhar em equipe, unidos como o apóstolo Paulo tanto o recomenda? Cada um conforme o seu dom deve cooperar para com o crescimento do reino de Deus sobre a face da terra.
O relacionamento entre as duas estruturas precisa ser trabalhado e feliz é o pastor e líder de igreja local que consegue colocar azeite entre as duas rodas desta engrenagem. Os líderes das duas estruturas precisam ser instruídos a entender a função de sua própria estrutura e da outra a qual tende a não entender.

Tabela – Tendências

T
E
N
D
Ê
N
C
I
A
S
Estrutura CongregacionalEstrutura MissionalT
E
N
D
Ê
N
C
I
A
S
É mais para IgrejaÉ mais para seita (para-igreja)
Governo: ConsensoGoverno: Missão
Foco: GenteFoco: Tarefa
Compreensão de si: PluralísticaCompreensão de si: “nós e outros”
Prioridade: manutençãoPrioridade: expansão, extensão
Lento em fazer mudançasÁgil em fazer mudanças
Preocupações múltiplasPreocupações concentradas
Consolida avançosFaz os avanços
Enfatiza o “SER”Enfatiza o “FAZER”
Crescimento BiológicoCrescimento por conversão
Nível de comprometimento baixoNível de comprometimento alto
Alimenta espiritualmenteDesafia espiritualmente
Burocrático, complicadoFácil, descomplicado
Controla, supervisiona, estruturaDelega, avança, cria estruturas simples
Cuida de pontos doutrinários e crençasPrega doutrinas e crenças
Protege a igreja e suas tradiçõesAtaca na frente de batalha
Tende a engolir a estrutura MissionalTende a ressentir-se contra a E. Congr.
Busca equilíbrio e estabilidadePronto a enfrentar lutas e desconfortos
Tensão é inevitável por que elas são diferentes e as pessoas tendem a desconfiar daquilo que é diferente. Porém, onde há diferenças, é também onde existe o maior potencial para complementação e crescimento. Onde há unidade na diversidade é onde o Espírito de Deus mais gosta de trabalhar.
Ambas as estruturas deveriam ser semi-autônomas no processo de fazer decisões, bem como mutuamente relacionadas em propósito e objetivo. Isto quer dizer:
  1. Distribuir entre as duas estruturas o poder de decisão. Pelo menos aplicar o princípio de Win Arn, de misturar as duas estruturas mantendo sempre recém conversos nas reuniões de comissão. Eles são os que mais ligação têm com o sentido da estrutura Missional, eles que têm mais contatos e amigos fora da igreja. Segundo Arn “pelo menos um em cada cinco membros da comissão devem ter-se unido à igreja nos últimos dois anos.”[2]
  2. Se a igreja for muito consciente, manterá o grupo de oficiais com o foco na missão, treinando-os e fazendo-os entender que a função principal da igreja é ganhar almas para o reino de Deus. Segundo Arn é necessário pelo menos um líder da igreja dedicado à estrutura Missional para cada três ativos na estrutura Congregacional.[3]
  3. Arn também chama atenção para o tempo gasto em cada estrutura. Ele afirma que uma relação saudável seria 3:1, ou seja, para cada três horas investidas para a manutenção da igreja (todas as horas de oficiais e pastor somadas), pelo menos uma hora deveria ser gasta para pregar o evangelho e servir a comunidade.
  4. As finanças devem ser discutidas em conjunto e entre as atividades da igreja, a missão deve ter a prioridade número 1, não apenas na agenda de discussões, mas também no orçamento da igreja.
  5. Deve ser um valor clara e amplamente comunicado com plena intencionalidade: que não há igreja sem missão e nem missão sem igreja. Os membros devem estar com a mente e o coração marcado por esta ênfase. Não pode ser apenas uma frase bonita, que se chama de missão da igreja local, escrita num quadro e pendurado na parede da sala de reuniões, precisa ser a linguagem e desejo de cada membro.
  6. Todos os cargos e estruturas da igreja devem estar a serviço desta parceria. Cada setor e departamento devem estar envolvido nesta parceria.
  7. Programas devem ser estabelecidos para envolver a igreja como um todo para cooperar com esta dupla estrutura eclesial.
O relacionamento deve ser simbiótico não independente. As relações numéricas de Win Arn são sugestivas a partir de estudos daquilo que ocorre de fato na prática das igrejas locais norte-americanas.
Em outros estudos, no entanto é mostrado que quando há uma tendência maior para a estrutura Missional, isto é, quando o complexo todo se move para a direita na figura 2 abaixo, há maior crescimento.

Parece que a afirmação de proporcionalidade direta entre tendência para a estrutura Missional e o crescimento numérico de membros se comprova na realidade. Em outras palavras, quanto mais se tende à Estrutura Missional, maior o crescimento numérico da igreja.
Creio no entanto que deve haver um limite para esta tendência. Deve haver um máximo ideal depois do qual, por falta da Estrutura Congregacional, a estrutura Missional começaria a sofrer e pelo dano perder conversos.
Se fosse verdade que uma tendência ilimitada na direção da Estrutura Missional seria sempre diretamente proporcional ao crescimento em número de membros, não seria necessário estabelecer-se a Estrutura Congregacional. Recém conversos seriam deixados a esmo, sem assistência e sem crescimento pós-batismal.
Por isso as duas precisam coexistir e se apoiar mutuamente, para que ambas unidas possam realizar o mandado de Jesus: indo, ensinando, batizando, fazei discípulos! Mt. 28:18-20.
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Dr. Berndt Wolter
[1] Allison, Lon & Anderson, Mark. Going Public with the Gospel. Downers Growe, IL: IVP Books, 2003, p. 318.
[2] Arn, Win. The Church Growth Ratio Book. Monrovia, CA: Church Growth Inc., 1990, p. 14.
[3] Ibid, 12.

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