Texto principal:
"Todas estas coisas disse Jesus às multidões por
parábolas e sem parábolas nada lhes dizia; para que se cumprisse o que foi dito
por intermédio do profeta: Abrirei em parábolas a Minha boca; publicarei coisas
ocultas desde a criação do mundo" (Mt 13:34, 35).
O cristianismo é razoável e tem lógica. O intelecto deve ser
cultivado. No entanto, o intelecto sozinho expressa de modo insuficiente toda a
personalidade humana. Ao contrário dos robôs, que são programados para
processar a razão e a lógica, os seres humanos são capazes de amar, sentir,
sofrer, chorar, preocupar-se, rir e imaginar. Por isso, Jesus ajustou as
verdades eternas de uma forma que ia além do mero intelecto. Ele falou por
intermédio de figuras concretas extraídas da vida cotidiana, a fim de alcançar
as pessoas onde elas estavam. Crianças e adultos podiam entender verdades
profundas transmitidas por meio de parábolas envoltas em imagens e metáforas.
Enquanto isso, conceitos complexos como justificação,
justiça e santificação eram facilmente compreendidos mediante a arte do Mestre
contador de histórias. Em outras palavras, conceitos que muitas vezes são
difíceis de entender na linguagem comum podem ser ensinados com o auxílio de
símbolos e metáforas.
Exemplos do Antigo
Testamento
1. Leia 2 Samuel 12:1-7; Isaías 28:24-28; Jeremias 13:12-14
e Ezequiel 15:1-7. Como essas parábolas e alegorias ampliam nossa compreensão
do relacionamento entre Deus e a humanidade? Quais objetos ou cenários
utilizados por esses profetas aparecem depois nas parábolas de Cristo?
Natã contou uma parábola a fim de disfarçar o verdadeiro
propósito de sua visita. Ao condenar o homem rico da parábola, Davi implicou a
si mesmo na transgressão, pronunciando assim a própria sentença. Usando um
artifício literário (uma parábola), Natã alcançou algo que de outra forma
poderia ter produzido confronto e, talvez, até mesmo sua execução!
A história poética de Isaías provém do ambiente agrícola
familiar aos seus ouvintes. Séculos mais tarde, Jesus empregaria esses mesmos
cenários. A parábola de Isaías ensina sobre a misericórdia ilimitada de Deus
nos tempos de punição. O capítulo 12 de Hebreus também apresenta o castigo de
Deus como instrumento para a correção e não como arma para vingança. Castigos
divinos refletiam Seus propósitos redentores. Eles eram suficientes para
encorajar o arrependimento, reavivamento e reforma. No entanto, quando ocorria
teimosia e rebelião mais amplas, havia punições maiores.
A parábola de Jeremias é uma terrível ilustração do
julgamento. Sempre que os seres humanos frustram o propósito redentor de Deus,
Ele finalmente os entrega às consequências de suas escolhas. Cristo também
compartilhou com Seus ouvintes parábolas sobre o julgamento. Ezequiel usou um
símbolo diferente para transmitir uma mensagem similar.
Por que contar histórias é uma forma tão poderosa de
expressar a verdade? Quais são suas histórias favoritas, e por que você gosta
delas? Comente com a classe.
Sabedoria arquitectónica
2. Leia Mateus 7:24-27. Qual é a contribuição desses versos
para nossa compreensão do discipulado cristão? Por que Jesus usou esse exemplo
da natureza para ensinar uma verdade tão importante?
As modernas sociedades alfabetizadas consideram a
alfabetização algo garantido. No entanto, ainda hoje, existem muitas sociedades
não alfabetizadas. Ao longo da história antiga, a alfabetização foi exceção e
não
regra. As classes dominantes, os especialistas literários (escribas), obtinham poder por meio da habilidade de leitura. Por isso, Jesus adaptou Suas mensagens dentro de formas que as pessoas comuns e iletradas conseguissem entender (obviamente, os ouvintes alfabetizados também poderiam compreendê-las).
regra. As classes dominantes, os especialistas literários (escribas), obtinham poder por meio da habilidade de leitura. Por isso, Jesus adaptou Suas mensagens dentro de formas que as pessoas comuns e iletradas conseguissem entender (obviamente, os ouvintes alfabetizados também poderiam compreendê-las).
Antes da invenção da imprensa por Gutenberg, os escritos
eram feitos à mão, um processo demorado. Relativamente poucos podiam adquirir
esses materiais valiosos. Portanto, a comunicação oral, mediante lendas,
parábolas e recursos semelhantes tornou-se o padrão para a transmissão de informações.
Deus oferece salvação a toda a humanidade. Seria
surpreendente que Cristo usasse formas de comunicação que alcançassem o maior
número de pessoas? A tradição oral, transmitida de geração em geração mediante
histórias simples, tornou-se o meio de propagação do pensamento redentor.
3. Leia Lucas 14:27-33. Que lições podemos aprender com
essas histórias? Como essas metáforas ajudam na compreensão do discipulado?
Edificação envolve preparação. As estimativas de custo são
elaboradas muito antes do começo da efetiva construção. O discipulado também
requer preparação. Milagres de multiplicação de alimentos, curas espetaculares
e o aparente sucesso poderiam levar os discípulos em potencial a supor que
seguir a Jesus fosse fácil. Entretanto, Jesus incentivou Seus ouvintes a
estudar o quadro completo. Sacrifício pessoal, sofrimento, humilhação e
rejeição constituíam custos consideráveis. Observe mais uma vez que Jesus
escolheu transmitir essa mensagem usando a linguagem metafórica, embora pudesse
ter oferecido uma lista de desvantagens específicas que os discípulos poderiam
encontrar.
Analogias agrícolas
4. Leia Mateus 13:1-30. O que Jesus estava ensinando aos
Seus ouvintes sobre o discipulado? Que lições os cristãos podem obter dessas
metáforas?
A parábola do semeador é familiar a muitos leitores. O
cenário da história era comum para uma sociedade agrária. Os ouvintes de Jesus
poderiam facilmente se relacionar com esse ambiente. A conexão com o
discipulado é óbvia. Essencialmente, Jesus estava desafiando Seus ouvintes a
avaliar sua posição como discípulos. Em lugar de confrontar cada indivíduo
especificamente, Ele falava por parábolas, convidando os discípulos a
confrontar a si mesmos. Olhando no espelho de seu coração, eles podiam avaliar
suas tendências materialistas, rever seu nível de perseverança, analisar seu
envolvimento com o mundo e escolher o estilo de vida do resoluto discipulado.
Ao mesmo tempo, o verdadeiro discipulado deixa o julgamento
(condenação) nas mãos do Mestre, em lugar de deixá-lo nas mãos dos discípulos.
O discernimento humano é incompleto e seu conhecimento é parcial. Só Deus
possui entendimento impecável. Jesus adverte igualmente sobre a infiltração
satânica. Os discípulos não podem entregar seu julgamento (discernimento) a
outros professos cristãos porque estes podem ser ervas daninhas, não trigo.
Ambos crescem juntos até a época da colheita.
"No ensino de Cristo por parábolas, é manifesto o mesmo
princípio de Sua própria missão ao mundo. Para que pudéssemos familiarizar-nos
com Sua vida e caráter divinos, Cristo tomou nossa natureza e habitou entre
nós. A divindade foi revelada na humanidade; a glória invisível, na visível
forma humana. Os homens podiam aprender do desconhecido pelo conhecido; coisas
celestiais foram reveladas pelas terrenas" (Ellen G. White, Parábolas de
Jesus, p. 17).
Na parábola do semeador, Jesus falou sobre a
"fascinação da riqueza". Como as "riquezas" podem enganar
até mesmo os que não as possuem?
A guerra do
Revolucionário
O ministério de Cristo foi revolucionário, mas sem as armas
comuns. Seus instrumentos eram infinitamente mais poderosos do que espadas ou
facas. Palavras que transformavam a vida, muitas vezes expressas por meio de
parábolas e metáforas, eram Suas armas "não tão secretas" na luta
contra o mal.
As táticas e estratégias de Cristo surpreenderam muitos
dirigentes. Eles não estavam preparados para enfrentar o poder de Sua
influência sobre as multidões. Muitas de Suas parábolas continham mensagens que
trabalhavam contra os líderes. Com razão, os líderes religiosos viram que sua
influência seria em grande parte reduzida sempre que a mensagem de Cristo
entrasse no coração das pessoas.
5. Leia Mateus 21:28-32 e Lucas 14:16-24; 20:9-19. Quais são
as lições dessas parábolas? Embora as parábolas fossem frequentemente dirigidas
a pessoas específicas, que princípios se aplicam a nós?
"A parábola da vinha não se aplica somente à nação
judaica. Ela tem uma lição para nós. À igreja desta geração Deus concedeu
grandes privilégios e bênçãos, e espera os frutos correspondentes" (Ellen
G. White, Parábolas de Jesus, p. 296).
Sem dúvida, temos sido muito abençoados pelo Senhor: Ele nos
redimiu pelo sangue de Cristo, prometeu salvação com base em Sua justiça,
deu-nos a certeza da vida eterna e nos concedeu o Espírito Santo. Deus nos deu
muitas bênçãos. No entanto, é fácil esquecer as coisas que temos, considerá-las
algo garantido ou até mesmo ridicularizá-las. Como os lavradores da parábola,
podemos até não perceber as implicações do que estamos fazendo. No fim, a
ignorância deles não os desculpou no dia do julgamento. Da mesma forma, a
ignorância não nos servirá como desculpa.
Quantas vezes você já se enganou a respeito de sua situação
espiritual? O que você aprendeu com essas experiências, que pode ajudá-lo a
evitar os mesmos erros novamente?
A herança criativa de
Cristo
Após a conclusão do registro do ministério de Cristo, a
narração de parábolas parece ter desaparecido das Escrituras. O que explica
esse fenómeno? Certamente, o maior segmento do restante do Novo Testamento está
centralizado em Paulo. Catorze livros do Novo Testamento foram atribuídos a
Paulo, e quase a metade da narrativa histórica de Lucas no livro de Atos também
está voltada quase que exclusivamente para Paulo. Embora ele não use histórias
da mesma forma que Jesus usou, Paulo ainda fez considerável uso de metáforas,
comparações e outros recursos criativos (Rm 7:1-6; 1Co 3:10-15; 2Co 5:1-10).
Embora Paulo não fosse um contador de histórias, suas apresentações não eram
tediosas nem insípidas. Obviamente, existiam diferenças de estilo entre o
discurso público de Cristo e o de Paulo, mas ambos revelaram considerável
criatividade de expressão.
Outros escritores do Novo Testamento demonstram até certo
ponto maior afinidade com o uso das parábolas. Tiago, irmão de Jesus, escreveu:
"Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro"
(Tg 2:2, NVI), para começar uma lição narrativa. No entanto, nem o irmão de
Cristo nem qualquer outro discípulo utilizaram histórias de maneira tão
extensiva quanto Cristo. Todavia, comparação e simbolismo são comuns. "O
rico passará como a flor do campo" (Tg 1:10, NVI). "Tomem também como
exemplo os navios" (Tg 3:4, NVI). A visão de Pedro (At 10) assumiu a forma
simbólica. Narrativas simbólicas formam porções significativas do livro do Apocalipse.
"Quando o dragão foi lançado à Terra, começou a perseguir a mulher"
(Ap 12:13, NVI).
6. Escolha duas passagens entre os textos a seguir e
identifique as metáforas em cada um deles. Quais são as mensagens contidas
nesses versos? Que figuras são utilizadas para transmitir a mensagem? At
10:9-16;
Tg 3:3-12; Ap 12:7-17; 18:9-20; 19:11-16
Seja qual for a forma de expressão, o princípio permanece o
mesmo: metáforas, símiles, parábolas, alegorias e outros exemplos de linguagem
criativa nos permitem a comunicação de modo compreensível. Com base nas
experiências do ouvinte, Cristo e Seus discípulos usaram comparações e
ilustrações que estimulavam a compreensão da verdade. Quando for apropriado,
não devemos ter medo de fazer o mesmo.
Estudo adicional
Leia, de Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 17-27:
"O Ensino Mais Eficaz".
"Jesus desejava despertar a indagação. Procurou
despertar os indiferentes e impressionar-lhes o coração com a verdade. O ensino
por parábolas era popular e atraía o respeito e a atenção, não só dos judeus,
mas também dos de outras nações. […]
"Cristo tinha verdades para apresentar, as quais o povo
não estava preparado para aceitar nem compreender. Por esse motivo também, Ele
lhes ensinava por parábolas. […] Posteriormente, ao olharem os objetos que Lhe
haviam ilustrado os ensinos, as pessoas se lembrariam das palavras do divino
Mestre. […]
"Jesus procurava um caminho para cada coração. Usando
uma variedade de ilustrações, não só expunha a verdade em Seus diversos
aspectos, mas apelava também para os diferentes ouvintes" (Ellen G. White,
Parábolas de Jesus, p. 20, 21).
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