“Nossa força vem de nossas fraquezas.” (Ralph Waldo Emerson)
Quando eu era pequeno, tinha um velho vizinho chamado Dr.
Gibbs. Ele não se parecia com nenhum médico que eu jamais houvesse conhecido.
Todas as vezes em que eu o via, ele estava vestido com um macacão de zuarte e
um chapéu de palha cuja aba da frente era de plástico verde transparente.
Sorria muito, um sorriso que combinava com seu chapéu – velho, amarrotado e
bastante gasto.
Nunca gritava conosco por brincarmos em seu jardim.
Lembro-me dele como alguém muito mais gentil do que as circunstâncias
justificariam.
Quando o Dr. Gibbs não estava salvando vidas, estava
plantando árvores. Sua casa localizava-se em um terreno de dez acres, e seu
objetivo na vida era transformá-lo em uma floresta.
O bom doutor possuía algumas teorias interessantes a
respeito de jardinagem. Ele era da escola do "sem sofrimento não há
crescimento". Nunca regava as novas árvores, o que desafiava abertamente a
sabedoria convencional.
Uma vez perguntei-lhe por quê. Ele disse que molhar as
plantas deixava-as mimadas e que, se nós as molhássemos, cada geração sucessiva
de árvores cresceria cada vez mais fraca. Portanto, tínhamos que tornar as
coisas difíceis para elas e eliminar as árvores fracas logo no início.
Ele falou sobre como regar as árvores fazia com que as
raízes não se aprofundassem, e como as árvores que não eram regadas tinham que
criar raízes mais profundas para procurar umidade. Achei que ele queria dizer
que raízes profundas deveriam ser apreciadas.
Portanto, ele nunca regava suas árvores. Plantava um
carvalho e, ao invés de regá-lo todas as manhãs, batia nele com um jornal
enrolado. Smack! Slape! Pou!
Perguntei-lhe por que fazia isso e ele disse que era para
chamar a atenção da árvore.
O Dr. Gibbs faleceu alguns anos depois. Saí de casa. De vez
em quando passo por sua casa e olho para as árvores que o vi plantar há cerca
de vinte e cinco anos. Estão fortes como granito agora. Grandes e robustas.
Aquelas árvores acordam pela manhã, batem no peito e bebem café sem açúcar.
Plantei algumas árvores há alguns anos. Carreguei água para
elas durante um verão inteiro. Borrifei-as. Rezei por elas. Todos os nove
metros do meu jardim. Dois anos de mimos resultaram em árvores que querem ser
servidas e paparicadas. Sempre que sopra um vento frio, elas tremem e balançam
os galhos. São “árvores maricas”.
Uma coisa engraçada a respeito das árvores do Dr. Gibbs: a
adversidade e a privação pareciam beneficiá-las de um modo que o conforto e a
tranquilidade nunca conseguiriam.
Todas as noites, antes de ir dormir, dou uma olhada em meus
dois filhos. Olho-os de cima e observo seus corpinhos, o sobe e desce da vida
dentro deles.
Frequentemente oro por eles. Oro principalmente para que
tenham vidas fáceis. "Senhor, poupe-os do sofrimento." Mas,
ultimamente, venho pensando que é hora de mudar minha oração.
Essa mudança tem a ver com a inevitabilidade dos ventos
gelados que nos atingem em cheio. Sei que os meu filhos encontrarão
dificuldades e, portanto, minha oração para que isto não aconteça é ingénua.
Sempre há um vento gelado soprando em algum lugar.
Portanto, estou mudando minha oração vespertina. Porque a
vida é dura, quer o desejemos ou não. Em vez disso, vou orar para que as raízes
de meus filhos sejam profundas, para que eles possam retirar forças das fontes
escondidas do Deus eterno.
Muitas vezes oramos por tranquilidade, mas essa é uma graça
difícil de alcançar.
O que precisamos fazer é orar por raízes que alcancem o
fundo do Eterno, para que quando as chuvas caiam e os ventos soprem não sejamos
varridos em direções diferentes.
(Philip Gulley)
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