Assim como todo ser vivo, uma igreja pode nascer, crescer,
achar a idade madura para reproduzir, estabilizar na meia-idade e eventualmente
declinar e morrer.
Ao longo do processo de desenvolvimento de uma igreja, ela
pode contrair doenças, assim como qualquer organismo vivo. Para que a
longevidade de uma igreja possa ser assegurada é necessário estudar as doenças
que ela pode contrair para preveni-las, afinal a medicina preventiva sempre foi
a mais eficaz!
Há igrejas que adoecem e se tornam ineficazes. Às vezes isso
ocorre por causa de uma pessoa que impõe um ritmo mais fanático na igreja e é
um líder dominante, trava todo o processo de crescimento saudável da igreja.
Pode ser que abordagens unilaterais, que não levem em
consideração a natureza da igreja e a tratem como uma empresa, ou outro
organismo qualquer, levem ao longo do tempo a igreja a ficar doente.
Doenças podem surgir também pela perpetuação de práticas,
que boas em si, produzem doenças quando aplicadas por um período prolongado. No
caso específico de igrejas com estruturas de funcionamento organizacional,
podem roubar a centralidade da igreja local com programas unificados que podem
ter relevância em uma parte da geografia abordada mas em outra parte produzem
doenças, por não terem levado em consideração as peculiaridades daquela área.
Muitas vezes a igreja é influenciada pelo ambiente que a
cerca e se torna doente. A enfermidade pode vir por decisões erradas que a
igreja tomou, bem como por decisões que precisa tomar e os líderes não veem a
necessidade.
O quadro abaixo dará de forma visível e prática a lista das
doenças eclesiásticas mais comuns. É claro que pode haver outras não alistadas
aqui.
As doenças nas igrejas vão roubando a vitalidade da igreja
ao longo do tempo. Elas são resultado de um mal funcionamento prévio. Naquela
composição específica de membros, daquela igreja específica, certos elementos
espirituais não se desenvolvem. Há algo impedindo. Aquela coletividade
espiritual específica não consegue avançar no entendimento e/ou prática de
determinados elementos de sua fé. Os membros individuais daquela comunidade de
fé vão se contentando com suas consecuções espirituais limitadas e vai se
instalando um mal funcionamento na coletividade. Alguns ainda podem até querer
que a igreja cresça trazendo alguns novos conversos, mas quando estes percebem
o ambiente, ou se adaptam e se tornam iguais, ou desanimam da fé e abandonam a
igreja, pois não foi isto que vieram procurar.
Pode haver algumas causas para isto. Há três pontos onde
pode haver falha: no diagnóstico, na ação necessária depois de diagnosticado,
ou na reação da igreja depois que as medidas foram implementadas.
1) Diagnóstico. No processo de pastoreio de uma igreja, o
Pastor precisa ir diagnosticando e percebendo onde há desvios e falhas na
igreja. As doenças surgem quando o pastor não percebe as reais necessidades
espirituais do rebanho e o desequilíbrio surge e persiste sem ser
diagnosticado. Pode ser também que ele não saiba diagnosticar ou pode ser que
não creia que precise diagnosticar. [3]
2) Ação. Aqui o Pastor fez um bom diagnóstico, entendeu onde
a igreja se encontra espiritualmente e em oração descobriu para onde levar esta
igreja. No empreendimento das ações necessárias para levar a igreja para o
crescimento necessário na fase de existência que está vivendo, tomou as medidas
erradas, ou não envolveu a igreja o suficiente, ou não o apresentou de maneira
atrativa suficiente para que a igreja se interessasse. Houve diagnóstico, mas a
ação falhou.
3) Reação. O pastor soube fazer o diagnóstico daquilo que é
necessário para a igreja, toma as medidas certas, mas a igreja não reage
positivamente.
Precisamos assumir que o rebanho, com raras excepções, não
sabe se auto-regular. Quando determinadas manias espirituais se instalam no
nível individual e/ou coletivo, é necessário que venha auxílio de fora, uma
autoridade que eles reconheçam como estando acima deles. Quando o Pastor, ou
talvez um líder local – ao qual eles dêem ouvidos – consegue fazer estes três
elementos confluírem harmoniosamente, geralmente há saúde espiritual.
Claro que dificilmente um problema espiritual aparece
sozinho. Geralmente é uma soma de elementos que precisam ser trabalhados.
Merece atenção o fato de que não estamos abordando aqui
aquela “caça à bruxas” que se fazia no passado, a busca da “capa de Acã”, quem
está com pecado escondido. Na maioria das vezes essa é uma abordagem
supersticiosa e uma tentativa simplificada de resolver os problemas de um
coletividade doente. Não é disto que estamos falando aqui neste ponto. A
abordagem aqui é de assuntos coletivos que precisam ser trabalhados
pastoralmente, como por exemplo:
1) A igreja é fria no trato de uns com os outros e com os
convidados que são trazidos. A formalidade e indiferença com as pessoas de
dentro e de fora limitam o crescimento da igreja e são base para o
desenvolvimento das doenças “Panela” e “Egoísmo”. O problema precisa ser
diagnosticado apropriadamente e ações precisam ser implementadas. O diagnóstico
pode ser compartilhado com a igreja e alvos estabelecidos em conjunto. Sermões
podem ser pregados, trabalho com a liderança pode ser feito, visitas pessoais,
treinamentos, etc. Todas estas ações são implementadas na direção de
esclarecer, capacitar e quebrar, pouco a pouco um jeito de ser doentio da
igreja para substituí-lo por outro que seja propício ao crescimento.
2) Quando o pastor chega ao distrito e percebe já na
superfície que a igreja não se envolve e não trabalha e não gosta de contribuir
financeiramente. Os cultos são bons e as muitas tentativas de evangelizar
fracassaram. A igreja está estagnada. Por mais que talvez até haja batismos,
mas ninguém fica, impedindo uma Taxa de Crescimento Líquida Anual (TCLA) sadia.
Ao descobrir a sua igreja e ouvir a sua história, percebe
que houve uma profunda decepção da igreja há anos. Essa decepção marcou a
igreja e a paralisou. A desconfiança e a suspeita acompanham a igreja desde
então. O pastor percebe que não é a inatividade o problema, mas a decepção
(veja em Liderança Espiritual: Fases do Desenvolvimento Espiritual). Ele passa
a trabalhar a decepção por meio de sermões e visitas pastorais. Percebe
cepticismo e desconfiança dos membros para com as suas ações e vai achando um
caminho que seja restaurador e curativo para a igreja. Simultaneamente
estabelece relatórios públicos periódicos, aumentando a transparência da
administração da igreja, para restabelecer a confiança novamente na liderança.
Pastores bem-sucedidos costumam: a) conduzir a igreja de
maneira que a igreja diagnostique o problema, de maneira aberta e transparente,
sem que surja o clima acusatório e de disputa que muitas vezes acompanham estas
reformas espirituais. b) estabelecem alvos intermediários junto com a igreja e
c) festejam as metas intermediárias alcançadas com a igreja.
Muitas destas mudanças são pessoais e não podem ser
resolvidas com programas coletivos. Muitas vezes indivíduo a indivíduo precisa
ser trabalhado e cada um precisa ser envolvido e curado para que a coletividade
cure a sua doença.
Com o tamanho que a IASD ganhou, algumas questões começam a
ficar mais complexas e as soluções parecem ficar mais distantes. A grande
pergunta é: teremos igrejas completamente saudáveis de novo? Sim e não! As
igrejas podem ser muito mais saudáveis do que estão hoje, porém a perfeição não
será alcançada aqui na terra. De maneira nenhuma queremos estabelecer um
perfeccionismo ministerial, administrativo ou espiritual, pelo contrário.
Aqui podem estabelecer-se duas maneiras de pastorear:
1) Um grupo de pastores dirá: “se nunca vamos encontrar a
perfeição então vamos continuar como estamos fazendo!” A ideia de que “ninguém
muda o seu próximo” e que estas investidas de reforma e reavivamento são muito
infrutíferas, tomam conta da mentalidade da igreja. Uma resignação mórbida se
infiltra e outras coisas tomam a prioridade da igreja. Os pastores preferem
partir direto para o evangelismo profissional para garantir os seus alvos
diante da organização, contar com obreiros pagos e ponto final.
Em seu distrito enorme de 7 ou 8 igrejas, quando não mais,
ele não se vê apto, capaz de conduzir suas igrejas para a reforma. Manter a
rotina já lhe parece trabalho suficiente. Os planos que vêm das organizações
superiores, a rotina de uma igreja que precisa estar bem organizada e a
exigência de programas atrativos são elementos que passam a ser levados em
consideração.
Manter a máquina funcionando já é suficientemente duro.
Como parece não haver aferidores para ver se a igreja está
ou não saudável, como em nossa cultura corporativa não instituímos estudos e
medidas da saúde da igreja local, como os pastores locais são cobrados apenas
por parte desses aferidores, a igreja local tende a adoecer e ninguém percebe o
fato… apenas uma frustração crescente se infiltra e ninguém sabe o que fazer.
2) O outro grupo de pastores encara a situação e percebe a
mesma limitação que o grupo anterior, mas não se entrega ao cepticismo. Começa
a buscar o crescimento efetivo e sustentado através de uma igreja saudável e em
crescimento espiritual saudável.
Ele percebe que por um tempo, ele terá que trabalhar em duas
frentes. Ele terá que investir no evangelismo institucional, simultaneamente
com a cura de sua (s) igreja (s), mas continua crendo que em tempo previsível
uma igreja saudável promoverá um crescimento muito mais acelerado e sustentável
do que jamais o evangelismo institucionalizado poderia produzir.
Apenas para a informação do leitor, o NUMCI mantém um
programa de assistência a distância para igrejas que sentem estar doentes.
Temos um instrumento para diagnosticar a saúde da igreja local em 10 de suas
principais características:
1. Estruturas vocacionais: consciência da vocação da Igreja
Local
2. Inclusão Ministerial: liderança visionária, servidora e
capacitadora
3. Inclusão relacional: relacionamentos cristãos abertos e
afetivos
4. Identidade Adventista Contagiante
5. Ministérios da Igreja orientados pelos Dons
6. Necessidades espirituais supridas: Mensagem Bíblica
poderosa
7. Organizados em grupos relacionais e espirituais
8. Reavivados pelo culto: Culto atrativo e espiritualmente
estimulante
9. Senso de missão: ações evangelísticas voltados p/as
necessidades das pessoas
10. Testemunho Inevitável: discipulado multiplicador
Esse diagnóstico não é a solução, pois é um instrumento de
diagnóstico e não de tratamento. O laudo final dá dicas e orientações gerais e
coloca a sua disposição materiais. Baixe AQUI um exemplo de diagnóstico e laudo
final de uma igreja real que já foi diagnosticada e está tomando as medidas necessárias
de desenvolvimento de suas características, de volta para a saúde.
Levar uma igreja doente de volta para saúde, requer mudança
de mentalidade e coragem para que a igreja enxergue-se a partir de uma nova
perspectiva. Haverá muita luta para que haja mudança de paradigma da igreja.
Pode ser que ao longo do processo ele se machuque e seja mal compreendido, mas
em longo prazo o alvo de uma igreja funcional, vibrante e crescente vai
ocorrer.
Haverá muita luta para que haja mudança de paradigma da
igreja. Pode ser que ao longo do processo o pastor ou algum membro de igreja se
machuque e seja mal compreendido, mas em longo prazo o alvo de uma igreja
funcional, vibrante e crescente vai ocorrer. Não empreender as reformas
necessárias pode manter a paz por algum tempo ainda, mas não irá garanti-la,
pois logo, logo a disfuncionalidade e irrelevância da igreja vai provocar em
tempos difíceis o que poderíamos empreender de modo proativo em tempos de paz.
O primeiro grupo de pastores não deixa de ter razão em seu
raciocínio. Esquecem-se no entanto de que se estão procurando pela vontade de
Deus para as igrejas que lhes foram confiadas, precisam tomar iniciativa no
processo.
Vamos iniciar o processo de discussão em nossas igrejas, e
saibam que existe material, existem recursos, existe apoio. Ouse ver a sua
igreja local crescendo a partir da sua saúde novamente e você verá como é
diferente.
[1]McGavran, Donald,
Compreendendo Crescimento de Igreja. São Paulo: Sepal, p. 163.
[2] Allison & Anderson, 318.
[3] Há pessoas que têm uma visão mágica de religião. Numa
super-dependência de Deus lançam-se em um relacionamento desequilibrado,
deixando por conta de Deus aquilo que Deus lhes confiou em suas mãos. Gosto da
seguinte comparação: o trabalho com Deus é como um jogo de ténis. Quando a bola
está na sua quadra, é sua vez de jogar. Depois que você jogou, não há o que
fazer a não ser esperar Deus fazer a Sua parte e devolver a bola. Só esperar
está errado, e jogar sozinho é como jogar squash, joga-se contra uma parede
fria e sem vida, em verdade joga-se sozinho.
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